Mãe de Mel

Mãe, como está aí no céu? Eu sei que está tudo ótimo, que você está bem e feliz. Ainda não sonhei com você. Quero muito te encontrar em sonho, mas tia Naa disse que há tempo para tudo, sigo na espera. Pode ir testando minha paciência grau zero mãe, estou aqui para me aprimorar. Mamãe prometeu contar da viagem pro Chile, então vou te contar tudinho meu amor. Saímos de Jacobina no dia 3 de abril, quarta à noite, 19:20h , porque seu pai teve mais pacientes que o previsto, aí atrasamos nossa saída. Chegamos a Salvador depois das 23h. A viagem longa, aeronave de configuração 2x3x2. Eu e seu pai ficamos no meio, aproveitamos para assistir filmes. Eu assisti Frozen e depois Como nasce uma estrela. Amei os dois. Seu pai assistiu Como nasce uma estrela e depois um de comédia criticando nossa política corrupta do Brasil. Ele gostou muito dos dois. Estávamos sobrevoando a Cordilheira dos Andes pouco mais de meio dia. Um cenário belíssimo, mas estávamos na fileira do meio, longe das janelas,

   Não foi fácil esse mês de maio, estávamos passando os dias sem nenhuma luz. Foram feitos exames de laringoscopia e afins. Até que num desses exames, viram que tinham granulomas na laringe que obstruíam a passagem da luz em 85%, como se fossem “cachinhos de uvas ou verrugas” que estavam na garganta de Mel e não deixavam o ar entrar e chegar aos pulmões. Tinha um diagnóstico de Sinéquia e estreitamento de traquéia. Foi decidido que faria outra cirurgia, seria a sétima dela, para retirada dos granulomas e dilatação de traquéia como última tentativa. Precisava dar certo. Vimos que na Bahia só tinham dois otorrinos especializados em laringe. Soubemos do Dr. Gustavo Cunha, um jovem médico que estudou na Suíça, muito capaz. Ele não atendia pelo Bradesco no Hospital Aliança. Tentamos transferir para o Hospital Santa Izabel, mas não conseguimos vaga lá, a UTI estava lotada, com pacientes entubados na emergência esperando leito. Então meu esposo pagou particular a esse médico para entrar

  Tudo pronto, muito nervoso e lágrimas abundantes da mamãe chorona, assim foi Melzinha operar pela sexta vez. Fiquei grudada com Cadu e Cristiano o tempo todo, pedi muita oração a todos que amavam ela.    A cirurgia acabou à noite, Cristiano e Cadu foram ver Mel, deram vários beijinhos nela e voltaram para Jacobina. Eu pedi que meu esposo arrumasse uma mala com minhas roupas de hospital (sim, eu tinha as roupas apropriadas para UTI) e mandasse no dia seguinte junto com meu carro por nosso motorista de sempre, Marcelo, esse merece destaque, já passamos várias situações nas estradas com Melzinha.    Nessa mesma noite Melzinha não teve condições de ser extubada, ficou bem desconfortável, lembro que era Reinaldo o fisioterapeuta de plantão, ele me avisou que Melzinha estava dando trabalho.    No início da semana foi extubada, mas ficou muito desconfortável e precisou voltar pro tubo. Nunca tinha tido falha de extubação antes, fiquei apreensiva.    Ela foi melhorando e tentaram mais

Pensem num aniversário emocionante. Pensaram? Em que o maior presente foi dado a mim. Vou contar a saga desse período.    5 de abril de 2018, quinta-feira, meu aniversário de 38 anos. Viajamos para Salvador, eu, Cristiano, Cadu e Mel. Não tinha nada para eu fazer em Salvador, mas Cristiano tinha um congresso de endocrinologia sexta e sábado o dia inteiro, eu senti no coração que precisava ir para Salvador de qualquer jeito, mesmo Cristiano falando que ele ia precisar do carro, que eu ficaria presa no apartamento com as crianças etc. Eu disse que sairia de uber, não teria problema. Fomos para Salvador, ficamos no apartamento dos amigos João e Marciele, ela já estava na reta final da gravidez de Aquiles, em junho ele viria ao mundo. Eles nos esperaram à noite com um bolo e salgadinhos, cantamos parabéns para mim.               No dia 6, sexta-feira cedo, Cristiano foi para o congresso e fiquei em casa com as crianças. Mel só dormia, achei estranho, ela estava bem hipoativa, dei b

Dois meses sem você.    Os dias passaram voando, nem parece que já são dois meses sem ter você. Essa história que o tempo vai aliviando ainda não funcionou comigo, dói mais a cada dia, a saudade só aumenta. Essa semana eu já tive três crises de choro, seu pai estava em uma delas e tentou me consolar de todo jeito, ele sofre muito também, mas é forte, pelo menos disfarça super bem.    Cadu também me pegou chorando e perguntou se eu estava bem, falei que não tinha como estar bem. Ele me ofereceu um Alfajor (chocolate) e eu respondi que nem o Alfajor e nem nada poderia melhorar o estado que me encontrava naquele momento. Então ele me deu um abraço. Senti-me culpada, poderia ter mentido e dito que só o beijo dele curaria minha dor, mas seria mentira, não consegui mentir desse jeito. Cada filho é único e insubstituível, ainda mais você Mel que vivia grudada em mim, que éramos quase uma só.    Dormir sem você é um desafio diário, sinto falta de sua pele, dos seus pijamas na minha cama,

   14 de abril de 2015, estava eu, há 4 meses no Incor em São Paulo com Mel na UTI,  ela se recuperando da cirurgia feita 23.12.2014 e recebi a ligação de minha irmã com a notícia que tanto temia, meu pai tinha ido morar no céu e eu não estava lá nos últimos meses de vida dele. Não senti remorso por não estar lá, não poderia sentir culpa porque eu estava cuidando de minha filha e tinha consciência tranqüila de ter sido uma filha ótima para meu pai, ele sabia do amor que tinha por ele, do respeito, admiração e dos cuidados que tive com ele no início da doença. Eu senti uma tristeza profunda, o sentimento que tive naquele dia, me acompanha até hoje, me senti órfã de amor, eu perdi a pessoa que mais me amou nessa vida, essa perda era dolorosa demais para mim.    No momento da notícia, chorei copiosamente e tia Zina entrou na UTI na mesma hora, perguntando se Mel tinha piorado. Um enfermeiro olhou para ela, sem nem saber quem era, falou que o meu pai tinha morrido, por isso eu chorava

   Domingo à noite, estou em casa, recebo uma ligação de Naara e no meio do diálogo, nossos maridos resolvem se falar. Entrego meu celular a Bliu para que ele fale com Tinho. Enquanto isso, pego minha carteira de dinheiro para procurar um cartão fidelidade, precisava colar uns adesivos do Best Burger Gourmet.    Quando abri o compartimento de zíper, que peguei o cartão, junto veio à pulseirinha de Mel e no fundo vi os brincos que ela estava usando nesse último internamento. Estavam guardados desde o início do internamento, final de janeiro.    Quando peguei a pulseirinha e o lindo brinco na mão, me deu uma crise de choro. Cadu estava ao meu lado e nada disse, só olhou para minha mão e entendeu tudo.    Como dói Senhor Jesus, como é difícil. Junto ainda estava o dentinho dela que caiu no dia que ela morreu. Ele já estava molinho e quando Dani enfermeira, estava preparando o corpo, o dente caiu e ela me deu, está enroladinho num guardanapo.    São pequenos detalhes, mas que r

Dentro de tantos encontros na vida, é uma dádiva cruzar com seu lindo ser no meu caminho. Percebo tanto de mim em você, e vice-versa. Eu poderia alongar meus dizeres (e acredito que até concluir o que eu quero dizer, vou me estender. Rs), mas hoje, nem todas as palavras existentes, nem as que eu neologismizasse, iriam bastar para traduzir toda mágica, toda doçura do nosso encontro. Você traz paz. E por todo meu desentendimento do mistério do universo e de Deus, creio na nossa delicadeza de sintonia. Acredito na somatória de nossas energias e algo de sublime e belo nos foi dado. O destino foi bastante generoso conosco, possibilitando que nossos caminhos se cruzassem. Talvez nossa conexão seja de outras vidas, outras passagens, outras dimensões. Um mundo de positividade e harmonia, que nem nós entendemos e nem precisamos entender, pois transcende significados. Coisas importantes que devem ser ouvidas em momentos fora dos - desesperados momentos de problemas. - (E eles nada são perto