Quando o marca-passo parou! Parte:3

   Não foi fácil esse mês de maio, estávamos passando os dias sem nenhuma luz. Foram feitos exames de laringoscopia e afins. Até que num desses exames, viram que tinham granulomas na laringe que obstruíam a passagem da luz em 85%, como se fossem “cachinhos de uvas ou verrugas” que estavam na garganta de Mel e não deixavam o ar entrar e chegar aos pulmões. Tinha um diagnóstico de Sinéquia e estreitamento de traquéia. Foi decidido que faria outra cirurgia, seria a sétima dela, para retirada dos granulomas e dilatação de traquéia como última tentativa. Precisava dar certo. Vimos que na Bahia só tinham dois otorrinos especializados em laringe. Soubemos do Dr. Gustavo Cunha, um jovem médico que estudou na Suíça, muito capaz. Ele não atendia pelo Bradesco no Hospital Aliança. Tentamos transferir para o Hospital Santa Izabel, mas não conseguimos vaga lá, a UTI estava lotada, com pacientes entubados na emergência esperando leito. Então meu esposo pagou particular a esse médico para entrar na cirurgia de Melzinha. Eu estava super confiante. Lembro que conversei com ele, ele me explicou que Mel tinha muitos granulomas dos dois lados da laringe, que teria que operar de duas vezes, pois se tirasse tudo de uma única vez poderia ter uma reação inflamatória gigantesca. Falou também que tinha um granuloma que era maior que os demais, que ficava bem em cima na laringe e obstruía a passagem da luz em 85% ( significa que o oxigênio só estava entrando 15% dentro dela). Mas ele estava super otimista e eu mais ainda. Cheia de fé que tudo daria certo, sonhando com a extubação dia 28 de maio, aniversário de 5 anos dela.
   Foram muitos os dias que orei de joelhos, que chorei naquela UTI e na gruta do hospital, elevando meus pensamentos em oração a Deus. Pedi a DEUS com muita fé que me desse o presente de ter Mel no aniversário de 5 anos extubada com sucesso. Todo esse tempo, tive o apoio dos amigos do Bahia Down, eles iam para rezarmos, iam para me fazer companhia, para levar coisas gostosas de comer, tinha Regi que lavava minha roupa toda semana, levava Thor (meu genro) para me dar beijo sempre, Naara sempre presente, quase que diariamente. Leila e Verena também estavam sempre no hospital comigo. Uma galera muito massa, que não me abandonava. Não posso citar todos os nomes, porque certamente esqueceria alguns. Minha dinda, tia Olívia ia sempre me visitar e almoçar comigo, quando sumia fisicamente, estava no celular. O pessoal de SP conectado o tempo todo. Tia Rose e tio Everton chegaram a vir para Salvador numa das vezes que Mel piorou muito. Chris mãe de Juju falava comigo todos os dias, tentava ajudar de alguma forma. Grace, uma amiga apaixonada por Mel, Renatinha, os amigos de Miguel Calmon, Jacobina, sempre conectados em busca de informações. Kelly aparecia sempre que eu estava piorzinha e sozinha. Recebi tanto apoio, tanta oração, que vocês não podem imaginar. Tássia, a terapeuta de Mel ia todo sábado à noite orar conosco na UTI.
   Pois bem, Mel foi operada 23 de maio de 2018. A cirurgia foi um sucesso. O cirurgião Dr. Gustavo Cunha, disse que conseguiu retirar todos os granuloma, pois eles tinham diminuído, e que o grandão que obstruía a luz em 85% tinha reduzido quase que completamente. Então perguntei a explicação médica, pois eu sabia o que tinha acontecido. Ele disse que provavelmente o organismo absorveu os granulomas. Eu sorri para ele, disse que a ele que foi um milagre de Deus, pois quando Deus quer é assim, Ele age lindamente. Antes não existia essa fala de absorção pelo organismo, agora apareceram com essa hipótese.
   Na minha cabeça estava tudo mais que claro, mais um milagre de Deus para eu contabilizar. Lembrei de contar esse milagre a um médico do hospital, que me falou que nunca tinha visto Deus. Lembro que falei a ele, na presença da enfermeira Anyr, que também nunca tinha visto Deus, mas que rezava todas as noites e tinha muita fé. Eu cria num milagre, mas se DEUS não fizesse um milagre na vida de Mel, Ele continuaria sendo Deus e eu seguiria tendo fé e crendo Nele.
   Nesse pós operatório, Melissa foi curarizada, usaram sedações pesadíssimas que derrubam até leão e elefante. Ela estava com 5 sedações: Precedex, Ketamina, dormonid, fentanil e curare. Impossível acordar. E a idéia era que ela dormisse 5 dias entubada, para cicatrizar a garganta me termos êxito com a cirurgia. Acredite se puder, Melzinha acordou com essa sedação derruba leão, se mexia, abria olho, só acalmava quando eu beijava ela, mandava ela dormir que estava lá velando o sono dela. Eu pedia e ela obedecia.
   Foi programada a extubação para 28 de maio, aniversário dela. Eu providenciei a festa de aniversário na UTI, comprei lembrancinhas, bexigas de unicórnio, encomendei um bolo de pasta americana com minha amigona de infância Indiara Kelly. E outro bolo com minha prima Ana Cristina Lanza. Pois a galera do Bahia Down toda iria pra gruta do hospital rezar e celebrar a vida dela. Cristiano e Cadu não puderam estar no aniversário, pois teve greve dos caminhoneiros e não tinha gasolina para ir à Salvador. Cadu ficou arrasado, ele queria demais ficar com a irmã. Lembrou com muita tristeza que o aniversário de 4 anos ela estava internada no Incor em SP. Falou assim: “nunca mais eu fui num aniversário de Mel’. Partiu meu coração, fiquei muito arrasada, mas sem gasolina não tinha como se locomover do interior para a capital.
   Pois bem, chegou o grande dia, lembro que a fisio do plantão, que extubou ela, foi Fernanda Félix, nossa amiga desde o Santa Izabel, conhecia Mel desde bebê. Lembro que a enfermeira Anyr ficou do meu lado, a enfermeira Fernanda acessorava a fisio Nanda Félix, Dra Lara e Dra Paula Azi de pé, a música Incendeia Minha Alma de Padre Marcelo Rossi tocando, todas nós tensas esperando o sucesso da cirurgia. Eram 10:10 da manhã, tiraram os esparadrapos, era  chegada a hora. 10:11 da manhã foi extubada. Falei: Que Deus abençoe. Anyr falou para mim: Deu certo!!! Eu ajoelhei na UTI chorando e agradecendo muito a Deus, nem conseguia falar. Todas vieram me abraçar. Anyr disse: Olha aí o presentão de aniversário que você ganhou! Foi uma extubação perfeita, fiquei imensamente grata a Deus por esse milagre.
   À tarde fui pegar o bolo gigante de unicórnio na casa de Indy Kelly. Às 18h entramos ao vivo no facebook para que todos os amigos e familiares participassem do aniversário dela, tinha gente do interior, de SP e de tantos outros lugares participando online. Nossa amiga Verônica, fotógrafa do Bahia Down, registrou todos os momentos. Cada foto mais linda que a outra.
   Quando foi 19:30 fui para o lado de fora da UTI, na gruta me reunir com a galera do Bahia Down, Grace, Renatinha e Ana Cristina, a festa foi muito massa, comemos, bebemos, rezamos, cantamos parabéns, só não tinha Mel, mas eu estava representando ela. Foi lindo e emocionante. O dindo foi lá na UTI,comeu bolo,deu parabéns a Mel, mas não me viu, pois eu estava na gruta com os convidados. Ele e Thita levaram um vestido de presente para ela. A equipe da UTI, maioria deu de presente a Mel, laços lindos. Dra Zilma deu uma boneca linda que acendia luz. Dani enfermeira deu um unicórnio de pelúcia, Paloma deu uma almofada, Mel ganhou muito presente, todos do Bahia Down levaram presentes, enchemos a UTI. Foi tudo perfeito, meu sorriso estava tão largo, que estava sorrindo até com os olhos. Felicidade e gratidão me definiam naquele dia. Um bolo ficou dentro da UTI e distribuímos para todos do hospital, porteiros, atendentes, pessoal da limpeza, nutrição, emergência etc. O outro lá fora ficou para nossa galera do Bahia Down e alguns amigos. Tenho aquele dia registrado na memória e numa agenda. Passei por momentos de muita dificuldade, precisei escrever para eternizar. A alta viria 20 dias após, muita coisa aconteceu até o dia 18 de junho de 2018.
     Digo a vocês: Deus é incrível! Deus é maravilhoso! Deus é o Cara!