Quando o marca-passo parou! Parte:1

Pensem num aniversário emocionante. Pensaram? Em que o maior presente foi dado a mim.
Vou contar a saga desse período.

   5 de abril de 2018, quinta-feira, meu aniversário de 38 anos. Viajamos para Salvador, eu, Cristiano, Cadu e Mel. Não tinha nada para eu fazer em Salvador, mas Cristiano tinha um congresso de endocrinologia sexta e sábado o dia inteiro, eu senti no coração que precisava ir para Salvador de qualquer jeito, mesmo Cristiano falando que ele ia precisar do carro, que eu ficaria presa no apartamento com as crianças etc. Eu disse que sairia de uber, não teria problema. Fomos para Salvador, ficamos no apartamento dos amigos João e Marciele, ela já estava na reta final da gravidez de Aquiles, em junho ele viria ao mundo. Eles nos esperaram à noite com um bolo e salgadinhos, cantamos parabéns para mim.           
   No dia 6, sexta-feira cedo, Cristiano foi para o congresso e fiquei em casa com as crianças. Mel só dormia, achei estranho, ela estava bem hipoativa, dei banho nela e imediatamente dormiu novamente. Comentei com Cristiano, ele disse que ela estava cansada da viagem, mas meu alerta acendeu. Mel não era de ficar cansada, pois era elétrica e animada como eu. À tarde fomos de uber para a casa de minha amiga Naara, ficamos lá e comentei que Mel estava bem molinha, que minha vontade era ir pro Aliança. Naa disse que ficaria com Cadu para eu ir pro Aliança com Mel, mas resolvi esperar até à noite quando Cristiano chegasse do congresso.     
   No sábado, 7 de abril, Cristiano foi para o congresso de carona e me deixou com o carro. Mel seguia molinha, só querendo dormir. Marquei à tarde no Salvador Shopping com Ramon e Cris do Bahia Down e também com Valcineide Teixeira, uma amiga que tenho como mãe, ela me deu o primeiro emprego em Salvador, no ano 2000, nunca teve filhos e sempre me teve como filha. Ela foi com a mãe dona Mary, a sobrinha Bia e a irmã Katinha. Passamos à tarde no shopping, Mel só dormia, acordou pouquíssimas vezes.Cadu se divertiu muito com Ruan e Bia.          
   No fim da tarde fui pegar Cristiano em Itapuã no congresso. Falei com ele que Mel não estava bem, que estava cansada, hipoativa, talvez fosse preciso colocar no oxigênio. Ele disse que no dia seguinte iríamos embora, em casa cuidaríamos dela. À noite fomos para o Sal & Brasa, churrascaria, com os amigos. Melzinha só do meu lado dormindo.  
   Voltamos para o apartamento, eu estava muito preocupada, cansada, já há duas noites sem dormir, mas não conseguia relaxar, estava muito aflita com Mel. Então coloquei o oxímetro no dedinho dela e mostrava saturação de 87, que já é baixa e batimentos de 72. Mas ela tinha freqüência fixa no marca-passo de 120 batimentos por minuto. Então cheguei à conclusão que a pilha do meu oxímetro tinha pifado, pois não estava marcando os batimentos certos. Testei em todos os dedinhos dos pés e das mãos, mas nenhum lia os 120 batimentos. Testei em mim, apareceu saturação de 98 e batimentos de 85. Aí pensei no porquê de funcionar comigo e não funcionar com Mel. Cristiano estava assistindo alguma coisa com João, acho que luta do UFC. Quando ele veio para o quarto já era mais de meia noite, eu estava lá acordada, olhando Mel dormir e muito preocupada. Cadu também já estava dormindo. Narrei a ele os episódios com o oxímetro, ele pediu para testar, colocou nela e os batimentos estavam 67 e saturação de 84. Primeiro ele contou a freqüência respiratória, estava 42, ele falou que ela estava precisando de oxigênio. Falei que ia para o hospital com ela, mas ele falou para esperar amanhecer. Pediu o estetoscópio dele e disse que contaria a freqüência cardíaca. Começou a contar e foi ficando com cara de desespero, contava no pé, no pulso, meio que sem acreditar no que estava contando. Eu já aflita, olhava para ele esperando a resposta. Foi quando ele me disse: “ O oxímetro está  certo, o marca-passo dela parou,o coração só está batendo 62 agora.”       
   Eu dei um pulo do colchão, tirei a camisola em segundos e vesti uma roupa, disse a ele que estava saindo pro hospital. Ele disse para esperar, a bichinha estava dormindo tão quentinha, tão linda. Mas eu falei bem séria: “Você não está entendo Bliu, quem vai pro hospital com Mel agora sou eu, você vai cuidar de Cadu que já está dormindo. Só quero que você me leve lá na porta onde o carro está estacionado.” Ele me conhece, sabia que eu estava convicta da minha decisão. Sempre fui mulher de atitude e ação. Ele me levou até o carro e pediu que desse notícias assim que fosse atendida, falou que cuidaria de Cadu e ficaria com o celular ligado.         
   Cheguei ao Hospital Aliança antes de 1h da manhã. Não gastei 10 minutos no trajeto. Fui chegando já desesperada. A equipe quando me viu foi logo dizendo: “Melzinha está com pneumonia de novo mãe?”
   Quando falei que o marca-passo tinha parado, todos entraram em pânico, pediram regulação para a UTI, Dra. La Rúbia estava de plantão, ligou para um arritmologista para saber o que poderia ser feito, pois Mel era dependente 100% de marca-passo e se ela tivesse uma parada cardiorrespiratória não poderiam fazer nada.        
   Liguei para o Dindo dela mais de 30 vezes, liguei para a noiva Thita, não sabia mais para quem ligar, ninguém atendia. O Dindo é arritmologista e era o responsável atual por medir a carga do gerador do marca-passo, inclusive tínhamos medido em outubro de 2017 (se minha memória não estiver falhando), a medição deu 2,78 amperes. Lembro que o Dindo falou que tínhamos até 2,5 amperes  com tranquilidade, após essa medição, iríamos programar uma cirurgia eletiva para dalí a 6 meses.        
   Para vocês entenderem: a bateria do marca-passo, ela tinha 5 amperes quando foi instalada em novembro de 2013, em quase 5 anos não tinha nem consumido a metade, foi feita para durar 8 anos. Então não tinha motivo para eu me preocupar.          
  Conseguiram falar com o chefe da equipe do Dindo, Dr. Alexsandro, ele mandou que colocassem um ímã sobre o gerador, que Mel agüentaria esperar amanhecer, que não morreria, que deixassem a mãe tranquila.      
   Eu estava com tanto sono, tão cansada. Foram pegar acesso em Mel, coletar sangue, todo aquele processo demorado até chegar à UTI. Quando chegamos à UTI já era quase cinco da manhã, eu estava exausta. Sâmara estava de plantão e disse não acreditar naquilo, pois a UTI estava lotada, deram alta a uma criança que estava mais estável porque tinham dois para entrar na UTI, estavam discutindo qual era mais grave para internar, nesse meio tempo de decisão do qual internar, Mel chegou gravíssima e foi direto pro leito 6 dela. Já contei essa história noutro texto, eu tinha paixão pelo leito 6 da UTI ped do Aliança. Era bem escurinho e eu conseguia dormir. 
   Dormi um pouquinho e 7h da manhã Dra Zilma chegou, ela estava de folga, mas viu no grupo (whatsapp) e ligaram da UTI para ela falando de Mel, então a super Dra Zilma, cardiopediatra, chegou e entrou em ação. Comunicou que Melissa teria que ser operada imediatamente, que iria procurar um cirurgião e checar com o hospital se o centro cirúrgico estava ok e tudo que fosse necessário. Mas antes, falou que entubaria Mel, pois precisava fazer alguma coisa por ela, para ajudar. Liguei desesperada para Cristiano e ele foi pro Aliança imediatamente. Fiquei lá fora chorando, Cristiano me consolando, aí Dra. Zilma veio me dizer que os dois dentes da frente de Mel caíram na entubação, um ela estava me devolvendo naquele momento e o outro perdeu. Ninguém achou. Falei a ela que os dentes já estavam molinhos, que não tinha problema. Todos os dentes nasceram na UTI, tudo bem que caíssem lá também.
   Implorei a ela que transferíssemos Mel de UTI aérea para o INCOR em São Paulo, pois não confiava de operar o coração de minha filha na Bahia, tinha péssimas recordações do implante do marca-passo, foi à pior cirurgia da minha vida, tinha trauma daquela paralisia cerebral adquirida no Incor, mas era lá que eu queria estar, com uma tecnologia de ponta, com os casos mais graves do país sendo solucionados. Mas ela foi firme comigo, falou que Mel não tinha teto para voar, que morreria, que não iria embarcar numa loucura dessas. Mel seria operada lá mesmo, no Hospital Aliança.   Chorei muito, liguei inclusive para Dra. Filomena do Incor. Mas ela de lá não poderia fazer nada. Só rezar e torcer para tudo ficar bem.        
   O Dindo assim que acordou e pegou o celular, ligou desesperado, ele estava no interior, Cabaceiras do Paraguaçu, tinha deixado o celular quase descarregado na sala e foi pro quarto dele dormir. Viu logo cedo e veio voando baixo para Salvador, me contou que passou por todos os radares, que veio a 180km/h, a mãe veio junto, não iria deixar o filho tão nervoso viajando só.
   Quando ele chegou fiquei em paz, ele me prometeu que Mel não morreria naquela cirurgia, que estaria lá ajudando o cirurgião o tempo todo, que confiasse nele, ele cuidaria dela para mim. Foi tudo que eu precisava ouvir, aquela promessa dele acalmou meu coração que chorava. Eu sempre confiei muito nele, além de ser excelente profissional, ele amava a Dindinha dele, sei que ele faria o impossível por ela.         
   A dupla dinâmica Dra. Zilma e dindo Dr. Alex Guabiru, agilizaram tudo, escolheram cirurgião Dr. Gustavo Melo,checaram todo o equipamento utilizado na cirurgia, parte burocrática no centro cirúrgico, etc... Sei que foi muita coisa, pois Dra Zilma admitiu para mim que Alex tinha ajudado muito ela, sem ele seria bem mais difícil.        




Comentários

  1. Amiga, vc era o marcapasso. Eu sou a creatinina! Deus é bom, sempre bom! Vc vai transformar esses escritos num livro! Ou melhor, já é! Falta as folhas e o cheiro de papel. Meu afeto!

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    1. Muito obrigada pelo carinho de sempre, você é um grande exemplo para mim e toda a sociedade Jacobinense.

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  2. Deus lhe escolheu especialmente para ser mãe de Cadú e Mel. E vc aceitou e conseguiu, pq nao faltou esforços para cuidar deles e agora nao faltará para Cadú. A saudade dói, mas a lembrança será eterna. Força!!!!

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    1. Uma saudade que ainda dói diariamente. Mas Deus sabe de tudo sempre, sigo confiando Nele.

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  3. Mulher de atitude e ação. Sinto muito por nós. Fernanda

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    1. Eu também sinto muito por nós amiga. As vezes parece que nadamos,nadamos,nadamos e morremos na praia. :(

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  4. Cada texto que vc posta só comprova o quanto vc é guerreira. Mel sempre estará viva em nossa memória e coração. Força e Fé!!!

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    1. Eternamente em nossos corações. Saudade que machuca muito ainda.

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  5. Ouvindo... Ouvindo não, lendo... É como se estivéssemos recebendo uma explicação Divina amiga... Por mais doloroso que seja, é tão claro que desde sempre, tudo foi cuidadosamente planejado por Ele! Por hora, ainda não temos o entendimento real, mas a certeza de que Deus estava agindo e conduzindo todas as situações nos consola de alguma maneira... Você está em minhas orações diárias e não há um só dia, em que eu não peça à Papai do Céu para me conduzir numa maneira de te ajudar a reencontrar força e alegria de viver!

    Sei que isso não é bastante, mas estarei sempre perto!! 🌹❤️

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  6. Amiga você sempre foi essencial em todos os momentos! Muito obrigada por sua amizade ������ e pelas orações! Deus esteve me guiando o tempo todo! Beijão

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  7. Amiga, cada vez que leio um post, revivo tudo novamente... e cada vez q eu revivo, sou grata a Deus por ter te conhecido. Eu já te disse e repito: vc é que é especial! Melzinha escolheu a mãe certa... sim! Ela sabia q poderia contar com vc, pra cumprir a linda missão dela juntas! A saudade é grande, dói demais, nunca vai passar.... Mas que tenhamos a certeza q tudo não foi em vão e que um dia nos encontraremos novamente!
    Te amo, amiga!🌹❣️

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  8. Estou amando muito conhecer um pouco da gistoria de mel,essa princesa guerreira q hj esta ao lado de Deus,sei q ela foi muito feliz por ter a mae guerreira q sempre esteve ao seu lado,parabens maezinha de mel,espero um dia ter a honra de adquirir um livro da hostoria dessa guerreira,amo ver as fts de melzinha q se torou um exemplo de vida e de superacao,um forte de abraco.ass;gessica

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