4 anos sem meu pai


   14 de abril de 2015, estava eu, há 4 meses no Incor em São Paulo com Mel na UTI,  ela se recuperando da cirurgia feita 23.12.2014 e recebi a ligação de minha irmã com a notícia que tanto temia, meu pai tinha ido morar no céu e eu não estava lá nos últimos meses de vida dele. Não senti remorso por não estar lá, não poderia sentir culpa porque eu estava cuidando de minha filha e tinha consciência tranqüila de ter sido uma filha ótima para meu pai, ele sabia do amor que tinha por ele, do respeito, admiração e dos cuidados que tive com ele no início da doença. Eu senti uma tristeza profunda, o sentimento que tive naquele dia, me acompanha até hoje, me senti órfã de amor, eu perdi a pessoa que mais me amou nessa vida, essa perda era dolorosa demais para mim.
   No momento da notícia, chorei copiosamente e tia Zina entrou na UTI na mesma hora, perguntando se Mel tinha piorado. Um enfermeiro olhou para ela, sem nem saber quem era, falou que o meu pai tinha morrido, por isso eu chorava tanto. Tia Zina quase cai, só falou: Zé?
Fiquei preocupada com tia Zina, pois ela usa marcapasso, usa bengala, tem problemas de saúde e recebe uma notícia, sem nenhuma preparação, que o primo querido dela tinha falecido. Mas foi Deus quem colocou ela naquele momento comigo. Ela ficou com Mel para mim enquanto as primas se organizavam para ficar com Mel na UTI, eu com a ajuda de Fernanda e Maurício, fui embarcar em Guarulhos.
   Fernanda, mãe de Marina, foi minha salvação, eu só chorava e nem raciocinava. Ela emitiu minha passagem e ainda me levou no aeroporto com o esposo Maurício. Serei eternamente grata a ela por isso e tantas outras coisas.
   Eu andava pelos corredores de Guarulhos chorando, todos olhavam para mim assustados. Ainda consegui antecipar o vôo. Quando cheguei a Salvador, tio Renezinho já estava me esperando e viajamos para Miguel Calmon – BA. Lembro que passei mal na estrada, vomitei muito. Chegamos 3:30 da manhã na Praça Redonda e ver meu pai no caixão na sala doeu absurdamente. Ele tinha partido para sempre e eu estava sentindo a maior dor da minha vida naquele momento.
   Foi difícil enterrar meu pai, mas eu aceitei porque ele já vinha doente há 10 anos, a doença do “alemão” não é fácil, quem convive com o Alzheimer sabe bem o que nossa família passou. Meu pai já não reconhecia mais as pessoas, não falava, comia por sonda, estava num estágio avançado da doença, precisava e merecia descansar, nunca fui egoísta, jamais ia querer ver o meu grande amor sofrendo. Ele sempre me falou: Deus nunca permita que eu enterre um filho meu. Eu respondia,  oxe painho, pois eu quero morrer primeiro que você, não sei viver sem o senhor. Ele rebatia: Pai nenhum merece enterrar um filho minha filha, você imagina o tamanho da dor? É contra a lei da natureza. Primeiro os pais morrem e só depois os filhos. Eu me calei diante dessa fala dele, não tinha filhos para saber como ele se sentia falando isso e o tamanho do amor dele por nós, seus 5 tesouros, porque para ele, nós, os cinco filhos, éramos o tesouro mais precioso que ele possuía.
   Você não passou por isso pai, mas eu estou passando. Que bom que Deus atendeu seu pedido, dói absurdamente, chega a ser dor física painho, por isso peço que o senhor fale aí com Deus pra cuidar de mim, me carregar no colo e me dar forças todos os dias pra suportar essa saudade e essa falta gigantesca. Realmente não é justo enterrar um filho.
   Hoje faz 4 anos que te perdi e daqui a 2 dias, fazem 2 meses que perdi minha filha e 9 meses que perdi vó Dinalva, muita coisa pra mim sabe pai? Eu sei que sou forte, você me criou para o mundo, me fez independente, desinibida, falante, otimista, alegre, tudo eu aprendi contigo, mas está tão sofrido painho, meu sorriso já não tem vida, não estou mais feliz. Me ajuda, por favor, se eu ainda tivesse você seria mais fácil, teria seu colo, que sempre foi o melhor do mundo. Te amo pai, pra sempre você viverá em meu coração. Você foi o cara mais incrível que já conheci, o mais sábio, sensato, otimista, o “mais mais” de todos, você foi perfeito sempre meu ídolo, meu maior exemplo.     
   Siga descansando em paz, até um dia meu amor, cuida de Mel para mim, fala que estou vivendo de saudade, principalmente de vocês três (você, Mel e vó). Deus nos abençoe. Que eu siga forte e otimista como você.


Comentários

  1. Chorei demais lendo, só me vinha a mente meu vô. Deus conforte teu coracco!

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  2. Meu afeto! Que a presença Santa do Senhor Jesus cure você das dores que sente por tantas perdas e sofrimentos. Só Nele teremos paz, a paz que excede todo o entendimento! Mesmo em meio às circunstâncias tão adversas!

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    1. Obrigada querida! um beijo carinhoso para você e Aymée

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  3. Que Deus a coloque no seu colo e que essa dor passe.

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  4. Esses foi um dos textos que mais chorei! Lembrei do meu pai tb!
    Uma dor que não cicatrizar e menos ainda ameniza!!!

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  5. Lembro bem desse dia. Quanta dor. Rezo por você e sua família. Fernanda

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  6. Lembro bem desse dia. Quanta dor. Rezo por você e sua família. Fernanda

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