Não subestime seu filho...
Certa vez postei um vídeo de Mel nadando na nossa piscina
após um longo internamento médico. Esse vídeo rendeu muitos comentários, mas um
especificamente chamou minha atenção. Uma amiga falou mais ou menos assim: “Mi,
eu acho massa a forma que você trata Mel e o que faz com ela, pois se meu filho
saísse de um internamento longo eu não teria coragem de colocá-lo na piscina
por um bom tempo.”
Não só ela, mas muita gente não colocaria. Não colocaria por
medo, por excesso de zelo, por tantas outras razões que eu aceito e respeito.
Mas eu não tinha todo o tempo do mundo, eu tinha pressa em
viver tudo de uma vez com Mel, era como se Deus me instruísse, como se Ele me
impulsionasse a agir, a viajar com ela após cada alta difícil e prolongada,
como se mandasse aproveitar a piscina e tudo que conseguisse o mais breve
possível.
Eu nunca fui irresponsável com minha filha, eu sabia
exatamente o que fazia, sabia que naquele momento ela estava apta a nadar numa
piscina, ou a pegar um avião e conhecer um novo destino.
Muitos pais de crianças especiais limitam seus filhos.
Evitam levar em parques, na escola, em piscinas, no mar, noutro estado e até
noutro país. Graças a Deus, esse arrependimento não carrego. Minha filha nos
poucos anos que viveu na Terra teve a chance de passear em shopping, ir a
igrejas, entrou no mar, na piscina, conheceu o Beach Park em Fortaleza, foi
para as Serras Gaúchas em pleno Natal Luz, fez trilha na Pratinha (Chapada
Diamantina), conheceu a ilha de Boipeba (paraíso na Terra), foi para Salvador e
São Paulo não só para consultas médicas, mas para passear também. Se hospedou
em muitos hotéis, tomou banho na banheira de hidromassagem, viajou pelo
interior da Bahia, foi amada, curtiu a vida intensamente, não falo para exibir,
mas para exemplificar, para falar que nossos filhos especiais precisam dessas
vivências, do convívio em sociedade, que eles entendem tudo,sabem quando estão
fora de casa, sentem prazer em conhecer lugares diferentes, que é nossa
obrigação inseri-los no nosso contexto de vida, nossa sociedade. A iniciativa é
nossa, começa na família. As pessoas da “rua” verão seus filhos pelos seus
olhos.
Nem sempre foi fácil, já encarei olhares preconceituosos, já
senti raiva, já vivenciei muitas sensações, mas valeu à pena cada uma. Minha
filha era muito feliz, o sorriso dela falava por ela. Quando viajávamos, ela
ficava quieta, não dava nenhum trabalho, não chorava, só sorria, era como se
dissesse: Pode me levar nas viagens mamãe, eu vou me comportar direitinho.
E ela sempre se comportava. Como ela amou as Serras Gaúchas,
o friozinho que pegamos de 10 graus, o bondinho da Cascata do Caracol, o Parque
Florybal, as luzes à noite... Ela amava viajar! E eu amava proporcionar tudo
isso a ela.
Nessas nossas viagens sempre estávamos saindo de um
internamento ou assim que chegávamos íamos para o hospital novamente, mas não
ligo, fiz o certo e tenho tranqüilidade no coração. Sensação de dever cumprido
com maestria, ninguém vai tirar isso de mim.
Queria pedir a você que tem filho com necessidades
específicas, que pare para refletir na forma como conduz a vida deles, saibam
que embora eles não falem claramente o que sentem, muitos nem falam, que vocês
saibam que por trás daquele corpo limitado existe um espírito sadio, que sente
tudo ao seu redor, que sabe por quem é amado, sabe tudo do meio que o cerca.
Converse com seu filho, fale da vida, do mundo, dos seus sentimentos. Ame e
beije seu filho, nunca limite e nem prive ele de novas experiências. Não tenha
medo de levá-lo para a escola, deixe que ele conviva com outras crianças, será
bom para todos.
Começa em casa o “Olhar com outros olhos”.
Não estou passando sermão, nem querendo ser exemplo para
ninguém. Só estou dando meu depoimento, que deu super certo, que me faz ter a
consciência tranqüila com relação à vida de Mel.
E sobre esse vídeo da piscina... Ela amava nadar, amava as
horinhas que tínhamos grudadas. Essa piscina não é mais a mesma sem ela, eu nem
tenho coragem de entrar... me trás as melhores recordações que vocês possam imaginar.
Tem gente que não coloca o filho Down na piscina por medo de
pneumonia, conheço vários. Pois te digo, ele pode pegar pneumonia a qualquer
momento, não prive seu filho dessa experiência. Eles vão amar, até mesmo quando
a água tiver gelada!
Fiquem com Deus!
Paz e Luz no caminho de vocês!
"Mas eu não tinha todo o tempo do mundo, eu tinha pressa em viver tudo de uma vez"... é isso amiga!
ResponderExcluirVerdade Fê. Eu corria contra o relógio.
ExcluirEsse texto é maravilhoso!!! Como terapeuta, sempre toco nesse assunto com os pais. As crianças com limitações ou não, precisam dessa vivência, sair, viajar, passear, conhecer o mundo, socializar, nem que seja apenas uma volta no quarteirão ou ver a rua, se possível, "brincar" com primos e familiares independente de ter ou não cognitivo preservado. Faz um bem enorme!! 👏👏👏
ResponderExcluirVerdade minha linda, siga nessa linha de pensamento e propagando essa informação para os pais de seus pacientezinhos. beijão
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