INCOR 2013 – PRIMEIRO INTERNAMENTO DE MEL

O primeiro internamento de Mel, também meu sexto sentido falou mais alto, Deus mais uma vez soprando aos meus ouvidos.
Estávamos em Salvador, Mel tinha 4 meses. Eu estava na Ferreira Costa comprando material para construção de nossa casa e tinha deixado Mel com a babá. Assim que cheguei em casa, Josy falou que Mel tinha vomitado. Eu fiquei sem ação, Mel nunca tinha adoecido antes. Já era sábado à tarde e no domingo voltaríamos para Jacobina.
Assim fizemos, voltamos domingo para o interior e passamos em Miguel Calmon na casa de vó Dinalva primeiro. Mel fez febre acima de 38 e me preocupei, pois ela jamais havia tido febre antes. Fomos para Jacobina e Cristiano deu um antibiótico a Melzinha que tínhamos em casa.
Eu tive um dos meus lapsos intuitivos e entrei na internet olhando passagem para São Paulo. Cristiano não concordou muito, mas ele estava indo para um congresso em Florianópolis na terça-feira e falei a ele que embarcaríamos no mesmo dia, ele pra Floripa e eu para São Paulo com Mel. Assim eu fiz, embarquei com Melzinha e chegando lá fomos direto para o INCOR.
Como Mel era SUS no Incor, demos entrada pela emergência. Estava em obras, então estava tudo misturado, adulto e criança, nem queiram saber o que vi e passei ali. Minhas primas e tias de SP são testemunhas de tudo. Ficamos uns dois dias no PA para conseguir subir pro andar da pediatria. O Dindo de Mel era residente no INCOR e nos ajudou demais, sem ele seria muito difícil enfrentar tudo sozinha.
Fomos direto para semi-uti e começou assim minha vida de hospital. O diagnóstico era PNEUMONIA! Melissa nunca teve gripe como as crianças normais, ela tinha logo pneumonia, tudo com emoção, porque coisa simples era fichinha na vida dela!
Com uma semana de hospital acho que enchi um rio de tanto que chorei. Melissa precisava ser aspirada diariamente, precisava de oxigênio, foi proibida de mamar porque fazia esforço e cansava ela, precisou de acesso central, transfusão de sangue (primeira da vida), CPAP e por fim intubação. Sim, ela foi entubada na segunda seguinte pela manhã por Dra. Paulyne (R1 na época) e Dra. Ana Maria Thomás (preceptora Top).
Assim permaneceu entubada por 17 dias até operar o coração para tentar recuperar o pulmão que já não tinha mais solução. Tudo devidamente avaliado por uma equipe sensacional de professores doutores da USP que trabalham no INCOR.
Tanta coisa aconteceu, que só o INCOR já daria um livro inteiro.
Foram 74 dias nosso primeiro internamento. E eu além da minha família paulista, meu alicerce, meu tudo, fiz amigas para vida, mães de UTI como eu, mães de fé, que juntas orávamos todas as noites 20h, pois Vânia, mãe de Bellinha, era esposa de pastor e também era ministradora da Palavra de Deus. Vivemos momentos da presença do Espírito Santo, em que chorávamos fortalecidas na fé. Conhecemos as histórias uns dos outros, vimos pais que eram verdadeiras mães, vimos mães que pareciam visita no hospital, mas vimos mães que eram a imagem de Maria cuidando de Jesus.
Só quem vive numa UTI pediátrica vai entender o que passei e vivi.
Os primeiros 17 dias entubada, eu ouvia música gospel o tempo todo, minha prima Jane Pontrelli tinha colocado no meu celular. Pedia conselhos à Vânia o tempo todo, pois Bellinha era Down e cardiopata, tinha Tetralogia de Fallow. Vânia sempre teve muita fé e me ajudou demais.
Após 17 longos dias intubada, Mel foi pra cirurgia. Lembro da Dra Ana Maria Thomás conversando comigo e Cristiano no corredor, em frente a UTI Neo e falando: “-Vamos partir pro tudo ou nada. Vamos operar o coração para tentar salvar o pulmão. Ela já está entubada, vai assim mesmo.” Eu e Cristiano gelamos. Eu adorava Dra Ana Maria, era a baixinha mais retada do INCOR, era direta, com ela não tinha enrolação, dizia logo a verdade na cara. Sem contar que era doutora pela USP, um poço de conhecimento. Prefiro assim! Logo nos meus primeiros dias na semi-uti, antes de Mel entubar, ela me deu um aviso, do jeito dela, mas pro meu bem. Eu curiosa querendo saber dos bebês ao lado, caí na besteira de perguntar sobre Pedro, filho de minha amiga futura Alcione, ele ficava no leito ao lado de Mel. Ela olhou para mim e disse: “Não queira saber o problema dos outros pacientes, se preocupe com sua filha. Cada cardiopatia aqui é mais grave que outra. Se você se envolver com todos os pacientes, sofrerá pelo seu e pelo da outra”. Na hora pensei: Levei um fora! Mas ao longo dos anos percebi que ela estava certa. Eu me envolvi demais com pacientes nas UTIs que freqüentei e sofri muito com as partidas daquelas crianças... quando Bellinha (filha de minha amiga Vânia) se foi, eu chorava tanto, que as pessoas me consolavam e até pêsames recebi, como se eu fosse mãe, foi minha primeira grande perda. Até alta da UTI para o andar dos quartos eu tive devido ao estado de nervos que fiquei.
Mas voltando... Mel operou aos 17 dias de entubação e a cirurgia foi um sucesso, com 24h Mel estava extubada, respirando sozinha e sorrindo. Mas como nem tudo são flores, com 12 dias de operada, Mel foi implantar o marca-passo porque ficou com 4h de CEC (circulação extra corpórea) na cirurgia e o coração não estava batendo direito sozinho.
Foi nesse bendito implante do marca-passo que ela teve 3 paradas cardíacas e adquiriu paralisia por hipóxia. Fiquei mais de mês na UTI REC de pós-operatório imediato. Ouvia as mães do andar falar mal da REC, que não conseguiam dormir direito, que não gostavam de estar lá, etc...
Mas posso confessar a vocês... EU AMAVA A REC... AMAVA ESTAR SOB OS CUIDADOS DA DRA FILOMENA... amava aquela equipe de enfermagem! Fiz amigas para vida inteira, como Daniela Nicolau e Viviane, duas enfermeiras que até hoje me mandam mensagens e falam comigo, que assim como todos os outros de lá, amavam Mel...
Tem uma técnica lá, chamada Fátima, eu chamo Fatinha, uma verdadeira bênção em minha vida, ela me ensinou a ser mãe de UTI, sugeriu que eu escrevesse um diário (assim eu fiz), falou que eu poderia usar os laços em minha filha, usar perfume, fazer tudo que tivesse vontade com minha filha. Me contava histórias de milagres que viu alí e de outros pacientes que marcaram a UTI. Ela deixava eu dormir, cuidava de Mel para eu descansar. Teve uma vez que uma paciente parou, era Mariana, filha de minha amiga Fátima, o plantão era de Dra Sol, minha outra paixão, eu tinha dormido à pouco tempo e estava há duas noites acordada. O protocolo é esvaziar os leitos próximos quando um paciente pára. O meu era colado. Ela me contou que foram ver se eu estava dormindo, que pensaram em me acordar para sair da UTI, mas ela, meu eterno anjo, pediu que me deixassem dormir, pois eu estava muito cansada e nunca revezava com ninguém, que eu estava dormindo profundamente, não estava fingindo, implorou para que me deixassem dormir. E ela conseguiu. Dormi até 3h da manhã, o sono dos justos.
Eu amava todos lá, outras técnicas que eu era apaixonada eram Ana Carla ( tinha livro publicado e era minha bruxinha favorita), Vanessa, Erinéia ( que até saía para lanchar comigo), Thaís, as gêmeas Ana Flávia e Ana Cláudia, às vezes eu trocava, aí chamava de Ana apenas rsrsrs Elas que me ensinaram a usar o secador na UTI para não estragar o cabelo de Mel,pois quando lavava, ficava molhado, Mel não sentava para ajudar na secagem natural. Eu adotei pra vida esse ensinamento, Mel amava escovar os cabelos.
A equipe de enfermagem era toda incrível. A japonesa Taty era meu xodozinho, pequena, linda e mega competente. Júlia outra fofa, até almoçar na rua comigo ela ia. Grazi, Dani, Carla, Jeiel e tantos outros especiais. Fiquei amiga das fisioterapeutas todas, meu amor era Denise, a chefe maior, ela só aparecia quando o caso era grave. A fisio mais gatíssima era Dani, parecia modelo, loirona do olho azul, ainda era dançarina de Dança do ventre, maravilhosa é ela!  Tenho histórias com cada um ali da REC, vivi momentos inesquecíveis.
Lembro quando Gabi, enfermeira da auditoria, estava na REC por acaso e deu Danone a Mel, eu amei que a Dra Filomena tinha autorizado, mas a nutricionista Letícia quase surtou quando viu, ela nos pegou no flagra kkkkkkkkkkk
A fonoaudióloga Helô virou minha amigona, acompanhou Mel a vida toda, falava até por telefone com as fonos aqui da Bahia para discutir condutas com Mel, minha eterna gratidão.
Em outra postagem falo mais da UTI REC, pois as médicas, enfermeiras, técnicas, fisios e outros que circulam por lá merecem um capítulo a parte.
Basta falar que tive alta pertinho do Natal, voltamos para a Bahia 23 de dezembro de 2013. Tive medo desse dia não chegar, quando o avião começou a sobrevoar Salvador, comecei a chorar e agradecer a DEUS por estar voltando pra casa com minha filha no colo.
Lembro que o piloto do avião da TAM falou assim: “Bem vindos à capital internacional do acarajé.”  Kkkkkkk todos a bordo sorriram, é o tipo de coisa que só acontece na Bahia e marcou minha volta ao lar.
Quando falo da REC e do INCOR meu coração palpita, amo aquela galera! Depois contarei sobre os residentes, eles eram R1 e eu no meu primeiro internamento, foram marcantes em minha vida, principalmente Dra Luísa Kalil, que até hoje mantém contato comigo, humana, competente, um anjo loiro de olho verde!


Comentários

  1. Nossa amiga !!! foram grandes momentos, grandes emoções naquele lugar. Pessoas inesquecíveis.

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    1. VERDADE ANINHA. E VOCÊ MINHA BRUXINHA PREFERIDA, MORA EM MEU CORAÇÃO. SINTO MUITA SAUDADE DE VC. DEUS ABENÇOE SUA VIDA E SUA FAMÍLIA SEMPRE. BEIJÃO

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  2. Não tem como não se emocionar lendo cada parágrafo e lembrando revivendo a cada palavra escrita...
    Meu Deus que experiência, que oportunidade de conhecer pessoas incríveis e maravilhosas que ficaram em meu coração eternamente, obrigada amiga Mirella vc é e sempre será inesquecível pra mim, seu carinho e afeto por minha Bellinha e por minha família não tem como esquecer ..
    Amo vc ❤️ e obrigada pelo carinho e lembrança maravilhosa que vc me fez relembrar 💕💕

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    1. VÂNIA MINHA AMIGA QUERIDA, APRENDI MUITO COM VOCÊ. SOU GRATA A DEUS POR SUA VIDA E DE SUA LINDA FAMÍLIA. DEUS SIGA ABENÇOANDO CADA UM. BEIJÃO

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  3. Nossa amiga...qta história pra contar! Haja emoção

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    1. MUITA HISTÓRIA MESMO AMIGA. FORAM ANOS MARAVILHOSOS. BEIJÃO

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  4. ❤️ Nunca vou cansar de agradecer por ter feito parte dessa história linda. Ainda vou te visitar pra colocar nossos meninos pra bagunçarem juntos

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    1. Ficarei imensamente feliz minha amiga!! Traga Bruninho para brincar na Bahia e tomar sol. Venha no verão. Jacobina estará de braços abertos para você e sua família. beijo imenso

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