Mensagem de Simone
Mãe Sol
Isso mesmo... Eu quis dizer sol e não “solo”.
Sol de estrela, astro, estrela de primeira grandeza, fonte de calor e luminosidade. Buscando uma definição justa, foi assim que ludicamente redesenhei a imagem de Mirela na minha “janela do meio” (o pensamento): A Mãe Sol.
Explico.
Para isso, preciso contar como nos conhecemos e para contar como nos conhecemos, preciso dizer por que nos conhecemos. Foi quando, estando eu imersa pela sombra da dúvida, do medo e da sensação impotente de não saber em qual direção seguir, surgiu essa pessoinha tão, tão... solar!! Me mostrando não só um caminho, mas trazendo um clarão de novas possibilidades, descobertas e transformação.
Em abril de 2015, confirmei que estava grávida pela primeira vez. E entre as muitas coisas que temos em comum, o sonho de nos tornarmos mães desde sempre, era uma delas.
Ao completar a 13ª semana de gestação, prestes a adentrar a 14ª, foi solicitado a realização de uma ultrassonografia morfológica e a minha grande expectativa era: “será que já conseguiríamos identificar o sexo do bebê?” Ao que me foi respondido que não era o mais importante a ser percebido naquele momento. E de fato, não era.
Diante da resposta senti um formigamento do dedão do pé até o couro cabeludo e esperei silenciosa e angustiada pelo fim do exame.
Naquele dia, todas as alterações que poderiam ser indicadas através daquele procedimento foram constatadas e mais... Uma má formação já pôde ser vista no coraçãozinho da mocinha (era muito provavelmente, uma menina).
Existia um indicativo de síndrome, mas não se sabia qual. Ali mesmo, fui alertada pela médica sobre o fato de que algumas delas são incompatíveis com a vida.
Daí por diante... BRÊU!
Foram dias difíceis, eu tinha um obstetra maravilhoso me acompanhando que me tranquilizou muito e sempre frisou: “Vamos subir um degrauzinho de cada vez”...
Mas experimentem, levantar da cama durante a madrugada na mais completa escuridão. Como seria? Imaginam?!
A sua primeira reação, sem sombra de dúvida, seria a de esticar os braços tentando tatear o espaço a sua volta, à procura de LUZ. Qualquer feixizinho de claridade que te ajudasse a enxergar.
Foi exatamente o que eu fiz.
À todas as pessoas que eu conhecesse e fossem da área, mostrava os meus exames e pedia opinião, buscando quem sabe, algum auxílio, que me trouxesse de volta à luz.
Muitas suposições, na grande maioria das vezes, as piores. Fui tomada por um medo crescente e hoje, sinto até uma pontinha de arrependimento por não ter ouvido os sábios conselhos do meu médico, mantendo a calma. No momento certo, as respostas iriam chegar.
Ah, esqueci de dizer que a essa altura, eu já havia ouvido mencionarem algumas vezes, a “mãe de Mel”. Mas sabe quando se está em uma plantação de palmas, bem no coração do sertão e se escuta falar em Ilhas Maldivas? Basicamente a mesma coisa.
Exatamente sete dias depois, eu estaria realizando a amniocentese, o exame que indicaria qual síndrome teria o meu bebê. E quinze dias mais tarde (conseguimos antecipar os resultados), eu estaria recebendo o diagnóstico de T21. E ainda tínhamos um probleminha maior, motivo de grande preocupação, sobre o qual não se sabia muita coisa, a cardiopatia. Pois, o primeiro eco cardiograma fetal só poderia ser feito ao se completarem as 22 semanas de gestação, dali há mais seis semanas. Nessa parte da história, é comum perguntarem o que eu senti... Bem, senti tudo de uma só vez!
Alívio, tristeza, alegria, medo, frustração, desespero e o coração tomado por muitas, muitas dúvidas!
Foi então que novamente ouvi falarem sobre “a mãe de Mel”. Ela,“a mãe de Mel” queria me conhecer, me dizia a avó da minha filha. E era assim que eu sempre escutava falarem de Mi.
Relutei por muito tempo e por diversas razões para ir ao seu encontro. E só fui fazer isso depois de finalmente, ter recebido o diagnóstico para DSAV/ forma total, indicando uma grave cardiopatia em minha filha Marina e novo recado de Mirela para que nos encontrássemos pois, essa era uma outra coisa que tínhamos em comum, nossas filhas ambas com Síndrome de Down e as duas com mesma cardiopatia congênita.
Eu que andava bem cansada de sempre duvidar do que responder a todas as pessoas, que gentilmente me perguntavam como estava a bebê, não senti vontade de conhecer “a mãe de Mel” naquele momento.
Mas é o sol que entra pelas frestas, o sol que alcança todas as coisas com seus tentáculos de luz, o sol que banha a tudo o que encontra na escuridão... O sol que reflete e faz acender!
Aquece e faz brilhar.
Cheguei a casa de Mirela tímida e sem jeito... Sem saber na verdade, o quê exatamente tinha ido fazer ali. Isso por não saber mais o que dizer, eu não tinha as respostas, ultimamente andava fugindo das perguntas... Elas aumentavam o meu estado de tensão. Mal sabia eu, que sairia daquele nosso primeiro encontro quase graduada em ser mãe de uma criança Down e cardiopata, “mãe de Marina”. Sim, não era qualquer bebê aquele que eu estava esperando... Ela tinha um nome lindo, uma história igualmente linda e forte e eu saí de lá com uma criança quase materializada em meus braços. Isso porque estar com Mel naquele momento me fez sentir isso. Dali há poucos meses a minha filha estaria aqui do lado de fora, isso era uma possibilidade real! E era incrível!
Mirela tratou de me acomodar, colocou Melzinha entre nós duas no sofá, sentadinha, apoiada nas almofadas. Derrubou diante de nós três algumas centenas de fotografias e registros de todos os momentos de Mel até ali... Eram fotos das terapias, dos internamentos, do aniversário de um ano, fotos em família, registros de antes da cirurgia, com o peitinho nu, orientando “tire foto de Marina assim, antes da cirurgia e mostre quando tiver grande que ela veio perfeita...” e falava “a cirurgia de Marina vai ser um sucesso, você vai ver...” contando das inúmeras crianças, filhos e filhas de amigos do Bahia Down que já tinham sido operados e estavam subindo pelas paredes, explicando porque algo tinha dado errado na cirurgia de Mel e como ela adquiriu a PC... Falava sem parar! (Risos)
Lanchamos mousse de maracujá e conversamos a tarde inteira até dar o horário de ir buscar Cadú na escola.
LUZ!
Vi um universo se descortinar bem diante dos meus olhos e saí quase arrumando as malas para o centro cirúrgico... Brincadeira! Mas saí com as forças renovadas e cheia de esperança. Sem contar que quando chegou realmente a época da cirurgia eu me senti muito melhor preparada. Teria sido muito mais sofrido se não fosse pela presença de Mirela e de Mel nas nossas vidas, mas isso é assunto pra outro depoimento de mais algumas páginas! Seguindo as recomendações, daquele dia em diante, quando as pessoas perguntavam a resposta era sempre a mesma: Marina estava ótima!
E assim, foi que Mel e Mirela começaram a fazer parte da minha história e ressignificaram a chegada de Marina... Eu me preparei. Pude reverenciar a chuva reconhecendo que ela também tem sua importância no processo de manutenção da vida na Terra. A cada internamento de Mel eu encontrei as respostas para todas as minhas questões, na bravura em que essas duas guerreiras atravessaram todos os momentos... Tudo está escrito. Tudo é perfeito como tem que ser mesmo quando parecemos tomados pela sombra escura. Não há noite que perdure porque em algum lugar existe um sol.
Quão grata eu sou por poder contemplar o sol que é Mirela. E aqui devo terminar dizendo que quando menciono Mi, não é a ela apenas que estou me referindo, porque quem teve o privilégio de conviver com mãe e filha sabe que é quase uma simbiose. E quem entender de biologia que explique, porque eu entendo (muito pouco), é de poesia. E digo, do sol que é Mirela e Mel, sua luz e seu calor.
Que lindo!
ResponderExcluirMuito amiga! Saudades! Beijão!
ExcluirTantas emoções, heim? Fui pró de Cadú, fui convidada para ser pró de Mel e sou pró de Marina. Muito feluz tbm de fazer parte dessa história. Parabéns Simone, sua mensagem/poesia nos faz pensar nos pequenos momentos q nos faz entristecer por quase nada. Sim, pq nossos maiores momentos são aqueles q tiramos conhecimentos para o crescimento com nossos filhos. Bjsss Mirela e Simone!!!
ResponderExcluirPró Vanuza Melo
Gratidão por você nas nossas vidas também Pró Vanuza, tem sido muito importante para o desenvolvimento de Marina! Gratidão por todo amor e compromisso!!! ❤️
ExcluirPró Vanuza é maravilhosa mesmo!! Obrigada por acompanhar tudo por aqui! Beijão
ExcluirLindo demais ! Bem isso Mi , você é Luz e ilumina muitas vidas , você é exemplo ! Te admiro demais ! Deus te fortaleça cada dia mais ! Feliz dia das mães pra ti , uma super mãe, "mãe Sol", um grande beijo em Cadu.
ResponderExcluirObrigada amiga! Beijão para você também !!!
ExcluirMe emocionei demais amiga e acho que todas as vezes que eu voltar a ler esse texto vou experimentar tudo de novo! Muitas emoções... A minha gratidão não tem tamanho!!! Amo você e sua luz!!!!! ❤️❤️❤️❤️
ResponderExcluirEsse textoooo tá phooodaaa amiga, você colocou muita gente pra chorar, inclusive eu. Obrigada por tudo! Você é nota mil! Amo vc e Mamá também!
ExcluirQue texto poético, não queria que acabasse! Desejei continuar lendo por conta da leveza e bravura das histórias tão lindas destas meninas e mulheres maravilhosas! Parabéns!
ResponderExcluirEu também queria que ela contasse nossas muitas histórias juntas... beijão...
ExcluirComo é fabuloso extraordinário o amor materno esse sim que é sol (luz) para nossas crianças. Como é sublime ler cada frase dessa linda história de amor, fé e esperança. Emocionadissima! Beijocas nessas lindas e incríveis mamães e filhotas, Deus nos abençoe nessa missão!!
ResponderExcluirObrigada Pati!!! Um beijooooo
ExcluirMuito emocionante Simone...confesso que me vi em parte dessa história. ...porém a minha foi interrompida no meio dela. ...
ResponderExcluir:( Deus sempre sabe de tudo! Devemos confiar nos seus propósitos!
ExcluirLindooooo!!!! Quanta emoção!💗
ResponderExcluirMuito emocionante mesmo! Beijos
ExcluirNossa q história!! Muito lindo e emocionante!!
ResponderExcluirConcordo, uma linda história de amor, fé, superação e resiliência! Beijo
ExcluirNossa!!! que texto maravilhoso! Encantador *--*
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