Mensagem de pró Karine
Eu gosto de falar de Melissa, gosto de lembrar da forma como ela estava lá com a gente, muitas vezes fragilizada pelos inúmeros tratamentos, mas sempre mais forte do que muitos de nós, mais sorridente do que muitos de nós, e com certeza, mais macia do que muitos de nós (risos).
No ano que conheci Mirela e Melissa, havíamos colocado em prática na APAE a triagem feita por dois profissionais da casa. Nesse dia estávamos eu e outra professora na minha sala de arte educação à espera da família com quem a gente ia conversar, pra conhecer um pouco sobre a história de vida do aluno que a gente ia atender, nesse modelo de triagem acreditamos que nos tornamos mais sensíveis a causa do outro, do que simplesmente entregar um formulário a família e aguardar que ela preencha. Aguardávamos a família em duplas, com formulário em mãos porque a gente acreditou que dessa forma, quem estivesse com a gente se sentiria numa conversa, não numa entrevista, que a acolhida seria menos formal, e mais descontraída, sem contar que seria mais fácil conversar e anotar o que era dito.
Na conversa eu lembro que Mirela detalhou com tanta precisão sobre tudo o que Melissa já havia passado com a família até ali, que eu pensei: quanto sofrimento em tão poucos anos de vida, e quanto amor construído nos mesmos anos. Mirela falava das várias idas e vindas a São Paulo, Salvador, dos vários internamentos, e intervenções, mas sempre, a cada conclusão de frase ela dizia que fez e faria junto a sua família tudo o que fosse preciso pra ver a filha feliz, e que cuidar dela nunca foi um fardo, entre lágrimas nos contou que era difícil e cansativo, mas que o amor nutrido por sua filha e o sorriso que ganhava todos os dias, devolvia a ela energia para viver e cuidar de sua família.
Uma das últimas perguntas do formulário questiona a família quais são as expectativas da família com relação a APAE, Mirela nos respondeu que tudo o que mais queria era ver a filha sendo tratada como uma criança que brinca, que ouve histórias, música, que se envolve com outras crianças, que vai ao chão, que dança, que cria. Comecei a visualizar naquele momento várias atividades de artes sendo realizadas por Melissa, alguns materiais nós já tínhamos na APAE adaptados para crianças com sequelas de paralisia cerebral, mas cada corpinho é único, cada mãozinha é única, e eu, junto a equipe, pensamos em outras adaptações para que Melissa pudesse nos acompanhar nas atividades.
Nossos encontros nas aulas de artes não foram em grande número, mas foram grandes encontros. Melissa participava das aulas com muito entusiasmo: ouvia músicas, dançava com os colegas que empurravam sua cadeira para que ela acompanhasse seus passos, tocavam nela, balançavam objetos próximo dela estabelecendo conversas, sorriam para ela, conversavam e brincavam com Melissa tornando aquele espaço também dela. Melissa respondia as perguntas das histórias que ouvia interagindo comigo e com seus colegas, escolhia cores para utilizar nas atividades, e criou obras lindas junto aos seus colegas. Experimentou pintar com uso de brinquedos legos fazendo desenhos redondos, com rolinhos de fita adesiva carimbou formatos como nuvens, flores, estrelas, colou tecidos de sua escolha nas obras, pintou com rolinho de espuma...até que um dia Mirela me encontrou ao final de uma aula, eu mostrei uma das atividades que Melissa estava concluindo e ela me perguntou: mas foi Mel que fez? Como ela faz pró Karine? Respondi que nosso corpo fala, principalmente o da pessoa com deficiência, os olhos de Melissa respondiam dirigindo seu olhar as imagens que lhe serviam de resposta, piscavam afirmando ou negando o que desejava usar, e seu sorriso ou não sorrisos nos contavam se aquela atividade lhe causava alegrias, ou não. Enquanto eu comentava sobre as ferramentas e o modo de usar, Melissa sorria pra mãe como quem dizia: sim mãe, eu fiz e que bom que você gostou! Melissa criou suas obras de arte até o dia em que foi internada e não retornou mais as aulas. Seu corpo deixou de falar com a gente, mas os aprendizados ao seu lado jamais serão esquecidos. Com ela aprendi mais sobre paralisia cerebral, aprendi novas formas de dar aulas, novas ferramentas pra oferecer aos demais alunos que recebo na APAE. Muitas estratégias foram criadas para ela e essas mesmas oportunidades que Melissa teve, hoje são acessíveis aos que virão, com as mesmas necessidades que ela. Cada aluno em especial nos ensina lições essenciais a quem lida com crianças que querem apenas o direito de ser crianças. Com Mel eu aprendi novos olhares sobre a vida.
Foi um prazer conhecer “Mel”, a menina mais macia do mundo, agradeço a sua família a confiança e respeito pelo nosso trabalho, assim como agradeço as doações de alguns pertences de Melissa que hoje estão na APAE auxiliando nosso trabalho com outras crianças. Sua passagem terrena foi especial, e no mundo espiritual não deve ser diferente.
A Mirela, obrigada pelo carinho, atenção, e espaço de escrita.
A Melissa, obrigada pela oportunidade de tantas mudanças em minha vida.
Um beijo carinhoso da sua pró Karine.
No ano que conheci Mirela e Melissa, havíamos colocado em prática na APAE a triagem feita por dois profissionais da casa. Nesse dia estávamos eu e outra professora na minha sala de arte educação à espera da família com quem a gente ia conversar, pra conhecer um pouco sobre a história de vida do aluno que a gente ia atender, nesse modelo de triagem acreditamos que nos tornamos mais sensíveis a causa do outro, do que simplesmente entregar um formulário a família e aguardar que ela preencha. Aguardávamos a família em duplas, com formulário em mãos porque a gente acreditou que dessa forma, quem estivesse com a gente se sentiria numa conversa, não numa entrevista, que a acolhida seria menos formal, e mais descontraída, sem contar que seria mais fácil conversar e anotar o que era dito.
Na conversa eu lembro que Mirela detalhou com tanta precisão sobre tudo o que Melissa já havia passado com a família até ali, que eu pensei: quanto sofrimento em tão poucos anos de vida, e quanto amor construído nos mesmos anos. Mirela falava das várias idas e vindas a São Paulo, Salvador, dos vários internamentos, e intervenções, mas sempre, a cada conclusão de frase ela dizia que fez e faria junto a sua família tudo o que fosse preciso pra ver a filha feliz, e que cuidar dela nunca foi um fardo, entre lágrimas nos contou que era difícil e cansativo, mas que o amor nutrido por sua filha e o sorriso que ganhava todos os dias, devolvia a ela energia para viver e cuidar de sua família.
Uma das últimas perguntas do formulário questiona a família quais são as expectativas da família com relação a APAE, Mirela nos respondeu que tudo o que mais queria era ver a filha sendo tratada como uma criança que brinca, que ouve histórias, música, que se envolve com outras crianças, que vai ao chão, que dança, que cria. Comecei a visualizar naquele momento várias atividades de artes sendo realizadas por Melissa, alguns materiais nós já tínhamos na APAE adaptados para crianças com sequelas de paralisia cerebral, mas cada corpinho é único, cada mãozinha é única, e eu, junto a equipe, pensamos em outras adaptações para que Melissa pudesse nos acompanhar nas atividades.
Nossos encontros nas aulas de artes não foram em grande número, mas foram grandes encontros. Melissa participava das aulas com muito entusiasmo: ouvia músicas, dançava com os colegas que empurravam sua cadeira para que ela acompanhasse seus passos, tocavam nela, balançavam objetos próximo dela estabelecendo conversas, sorriam para ela, conversavam e brincavam com Melissa tornando aquele espaço também dela. Melissa respondia as perguntas das histórias que ouvia interagindo comigo e com seus colegas, escolhia cores para utilizar nas atividades, e criou obras lindas junto aos seus colegas. Experimentou pintar com uso de brinquedos legos fazendo desenhos redondos, com rolinhos de fita adesiva carimbou formatos como nuvens, flores, estrelas, colou tecidos de sua escolha nas obras, pintou com rolinho de espuma...até que um dia Mirela me encontrou ao final de uma aula, eu mostrei uma das atividades que Melissa estava concluindo e ela me perguntou: mas foi Mel que fez? Como ela faz pró Karine? Respondi que nosso corpo fala, principalmente o da pessoa com deficiência, os olhos de Melissa respondiam dirigindo seu olhar as imagens que lhe serviam de resposta, piscavam afirmando ou negando o que desejava usar, e seu sorriso ou não sorrisos nos contavam se aquela atividade lhe causava alegrias, ou não. Enquanto eu comentava sobre as ferramentas e o modo de usar, Melissa sorria pra mãe como quem dizia: sim mãe, eu fiz e que bom que você gostou! Melissa criou suas obras de arte até o dia em que foi internada e não retornou mais as aulas. Seu corpo deixou de falar com a gente, mas os aprendizados ao seu lado jamais serão esquecidos. Com ela aprendi mais sobre paralisia cerebral, aprendi novas formas de dar aulas, novas ferramentas pra oferecer aos demais alunos que recebo na APAE. Muitas estratégias foram criadas para ela e essas mesmas oportunidades que Melissa teve, hoje são acessíveis aos que virão, com as mesmas necessidades que ela. Cada aluno em especial nos ensina lições essenciais a quem lida com crianças que querem apenas o direito de ser crianças. Com Mel eu aprendi novos olhares sobre a vida.
Foi um prazer conhecer “Mel”, a menina mais macia do mundo, agradeço a sua família a confiança e respeito pelo nosso trabalho, assim como agradeço as doações de alguns pertences de Melissa que hoje estão na APAE auxiliando nosso trabalho com outras crianças. Sua passagem terrena foi especial, e no mundo espiritual não deve ser diferente.
A Mirela, obrigada pelo carinho, atenção, e espaço de escrita.
A Melissa, obrigada pela oportunidade de tantas mudanças em minha vida.
Um beijo carinhoso da sua pró Karine.
Linda homenagem!
ResponderExcluirMel deixou um vazio em nossas vidas!
Um vazio imenso em meu coração, que insiste em escorrer pelo rosto... Só Deus e o tempo...
ExcluirQue bom que Mel pode vivenciar tudo isso!!!! Parabéns pró Karine!!! 👏👏👏👏
ResponderExcluiramiga ela é maravilhosaaaa, meu sonho é tu colocar Mamá lá 2x na semana pela manhã com pró Karine. beijoooo
Excluir