Mensagem de Dra Luisa Pigatto Kalil
O dia em que conheci Mel (e Mirela)
Meados de 2013, eu era residente (R1) da
Cardiologia Pediátrica no InCor, e tinha a tarefa de atender os “casos novos”
no ambulatório. Neste dia conheci Mel e Mirela (as duas eram uma só, sempre
juntas): eu começando a residência e elas chegando no InCor. Mal sabíamos da
jornada que teríamos.
Desde o primeiro contato, percebi o quanto
Mirela é uma mãe dedicada: além de Mel estar toda enfeitada, uma boneca, como
sempre, Mirela já havia estudado sobre a síndrome genética e a cardiopatia da
Mel.
Meu segundo contato com a dupla foi na Unidade
Semi-Intensiva, onde nós 3 tivemos dias difíceis. Eu, como todo R1 que se
prese, estava cansada, a rotina era exaustiva. Chegava cedinho e, na grande
maioria dos dias, me deparava com a dupla já de pé, de banho tomado e sorriso
no rosto. Mel teve uma evolução arrastada, não lembro bem ao certo quanto tempo
de internação, mas lembro dos altos e baixos. Lembro da minha angústia, ainda insegura
no cuidado dos cardiopatas. E lembro, principalmente, do quanto Mirela era
incansável, otimista e feliz. E o quanto ela contagiava a todos na unidade com
boas energias (sem contar os mimos... era a primeira a organizar uma festinha,
providenciar lembrancinhas).
A terceira vez que minha vida cruzou com a de
Mel e Mirela foi a mais difícil, no entanto a que mais nos aproximou. Final de
Dezembro de 2014 e Janeiro de 2015, REC 1. Mel já havia sido operada e
reoperada, já tinha marca-passo e, mais uma vez, estava muito grave. Sedação,
ventilação mecânica, inúmeros remédios para ajudar o coração, diálise,
transfusão. Mel chegou a ser a paciente mais grave da sala. Eu revisava tudo
várias vezes ao dia, me preocupava muito, mas, no fundo, sabia que tudo terminaria
bem. Era isso que Mirela me passava: paz e confiança. Mesmo nos dias mais
difíceis, Mirela conversava com Mel, lavava seu cabelo e a penteava, orava. E
diversas vezes eu saía escondida para chorar. Como eu podia estar tão fraca na
frente de uma família tão forte? Outras vezes chorávamos juntas. Meu estágio se
aproximava do fim, e era o último da residência. Mas fui em paz, Mel estava
melhor e em seguida voltaria para casa.
Mel teve alta, voltou para Jacobina, sempre
mantivemos contato pelas redes sociais, mas só nos reencontramos pessoalmente
em Abril de 2017, no InCor. Desta vez Mel havia ido para fazer exames
ambulatorialmente, então foi nosso encontro mais leve. Me admirei com seu
tamanho e desenvolvimento, encontrei uma mocinha risonha e feliz, como sua mãe.
Sem falar no lindo casaquinho branco e um laço rosa no cabelo, uma verdadeira
boneca.
A última internação de Mel, que foi em Salvador,
acompanhei à distância. Mais uma vez, estava muito grave, mas eu estava só
esperando a foto do dia da alta. Afinal, já havia passado por situações
difíceis e tido alta. Desta vez foi diferente. A notícia de sua partida me
pegou de surpresa. Eu estava indo para o hospital, em Porto Alegre, mas tive
que parar no meio do caminho. Que sábado cinza que estava por aqui. Sentei no
banco de uma praça que fica perto do hospital que trabalho. E, como se não
fosse para eu chorar sozinha, começou a chover.
Não tenho dúvidas que, com essa dupla, recebi
mais do que dei. Aprendi mais do que ensinei.
Mel, uma criança tranquila e feliz. Mel me
ensinou a nunca desistir. Mesmo que as coisas não saiam como o esperado. Mesmo
que os dias ruins insistam em se repetir.
Mirela, que pessoa de luz! Me ensinou tanta, mas
tanta coisa, que nem saberia por onde começar!
Sou eternamente grata por ter essa dupla na
minha vida.
Luisa Pigatto Kalil
Lindo relato!! É inspirador ler cada mensagem dessa, principalmente quando se está um pouco frágil. Obrigada Mi! Fica c/ Deus! Beijos!
ResponderExcluirEsse texto de Lú eu chorei horrores! Passa um filme na cabeça... beijão
ExcluirComo não chorar com os relatos emocionantes? Mel, uma princesa iluminada e Mirela um ser de luz!!!
ResponderExcluirMuito obrigada de coração. Eu choro todas as vezes que leio esse texto. Luísa é muito especial para mim. beijo
ExcluirCada vez que leio um texto,são rios de lágrimas que escorrem do meu rosto.
ResponderExcluirMel.... Mirella...verdadeiras guerreiras!
Eu também choro muito.Queria ter minha filha aqui. Mas Deus sabe de tudo sempre.
ExcluirMuito emocionante!
ResponderExcluirMi é um exemplo de mãe,mulher,guerreira para todos nós.
Mel deixou um vazio em nossas vidas.
Nem me fale desse vazio que já choro de novo... :(
ExcluirEmocionante! Impossível não amar! Bjs no coração!
ResponderExcluirMuito obrigada de coração. Mel trouxe muito amor com ela... Hoje deixa um vazio gigantesco em minha vida...
ExcluirOps! Vários "engasgos"... Cada relato mais emocionante que o outro. Mais forte. E é isso. Exatamente isso... a missão não terminou naquele 16 de fevereiro... A gente continua aprendendo tanto e sempre! Que bom amiga que você foi inspirada a criar o blog e que tem força e coragem para isso! Gratidão!!! 🙏❤️
ResponderExcluirTem sido minha terapia amiga. Do mesmo jeito que juntar amor, faz ele multiplicar ! Dividir tristeza, ameniza o sofrimento. Beijão e obrigada por tudo sempre!
Excluir❤
ResponderExcluirum beijo
ExcluirOlá Mirela! Seu blog está lindo! Cada texto mais emocionante que o outro, impossivel não se emocionar com seus relatos, suas histórias com a princesa Mel. Espero que Deus te dê força e sabedoria para suportar essa dor e vencer esse momento que não deve ser nada fácil. Se apegue a Deus, aos amigos "anjos" que Deus e Mel te enviaram. Você tem uma missão aqui na terra que nem imagina... está apenas começando. Abraço fraterno!
ResponderExcluirObrigada pelas palavras querida! Que Deus nos abençoe sempre. Não está sendo fácil, mas se aprender a conviver com a dor da saudade. Espero do fundo do coração que eu consiga ser feliz novamente.
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