Mensagem de Alinne Grassi


   Era uma manhã tranquila de sol como outra qualquer na cidade de Jacobina e eu estava trabalhando no meu consultório que ficava numa clínica onde a pequena Mel frequentaria muitas manhãs a partir daquele dia, o dia em que conheci a pequena grande Mel!Dia 10 de julho de 2013. Eu saí da sala para ir ao banheiro e fui atraída por uma bebezinha tão pequenina nos braços da mãe, que até então eu desconhecia. Perdi o foco do que iria fazer e me aproximei. Enquanto fui em sua direção a impressão que tinha é de que me aproximava do sol; toda aquela energia ao redor dela me envolveu e eu finalmente cheguei bem pertinho. No instante em que nossos olhares se firmaram eu tive a certeza de que se tratava de um gigante num corpo de um bebê! Meus olhos se encheram de lágrimas, me emocionei e eu nem ao menos a conhecia... puxei qualquer assunto com sua mãe mas minha intenção era permanecer ali, admirando e apreciando toda aquela sensação de leveza na alma que ela me fez sentir. Quem era aquela mãe tão merecedora deste grade presente de Deus? Mirela Nobre, mãe de Melissa Nobre, a bebê em questão.
Na ocasião em que conheci Mel eu estava grávida do meu primeiro filho, Bento. Antes de engravidar eu e meu marido nos preparamos para ser pais amorosos, atenciosos e corajosos. Estávamos dispostos a ser pais na mais pura profundidade do amor e compromisso que tudo isso envolve. E nesta fase os “ses” são bastante presentes. E se nosso filho tiver Síndrome de Down? A nossa resposta, minha e do meu marido Ernesto, foi: tudo bem! Estamos prontos para ser pais de verdade, com todo o amor e compromisso que tudo isso envolve. Mas era apenas um “Se” e Mel era de verdade e estava ali sempre, frequentava a fisioterapia todos as dias e quase todos os dias nos encontrávamos e eu, sempre atraída pelo sol, ganhava tempo desfrutando da sua paz. Mel era a certeza nos braços daquela mãe corajosa, forte, plena! E assim Mel me fez ser: certeza de que eu estava pronta!
Os anos foram passando e a pequena Mel cresceu linda, forte e resiliente.
Mel tinha uma condição de saúde altamente limitante, Muito manipulada, cirurgiada, furada, aspirada, internada... mas condição extrema nenhuma conseguiu tirar seu brilho no olhar. Nunca se deixou esmurecer. Ela não falava, mas expressava amor e felicidade de uma forma impressionantemente clara. Desde sempre por onde passava conquistava todos ao seu redor, com sua alma serena e suave não tinha quem não a amasse! Pequena linda, de alma linda, de sorriso inesquecível lindo e invasivo a qualquer coração. Quem teve a oportunidade de conhecer Mel pôde aprender muito com ela e quem teve o privilégio de conviver com este ser tão especial, recebeu um sublime presente de estar diante de um anjo de Deus. Ela foi puro ensinamento: sobre amor, oração, fé, gratidão, resiliência, luta, força, sentimentos, valores, família, união, esperança, milagre. Ela foi vida que deu sentido a muitas outras vidas!
Todas as vezes que a encontrava na recepção da sua fisioterapia eu me sentia privilegiada! Era assim: hoje é meu dia de sorte! E como eu fui sortuda! Ela me trazia paz, serenidade, leveza e sempre, emoção. Ela realmente mexia muito comigo, não sei bem porquê, mas sempre foi muito significante encontrá-la.
Aquela mãe plena com sorriso sempre no rosto, feliz, desfilava com sua filha nos braços malhados de sempre a carregar sem nunca demonstrar cansaço. Mel sempre estava linda, arrumada, enfeitada, cheirosa... e feliz que na verdade era o que a deixava radiantemente linda! Nunca vi Mirela se queixar de absolutamente nada que envolvesse Mel. Ela estava sempre disposta a tudo que fosse preciso para a saúde e qualidade de vida de sua filha e sempre o fez de forma incondicionalmente dedicada, inteira e feliz.
Certa vez recebi a visita de Mel em minha casa. Foi quando minha segunda filha nasceu, Loa. Mirela me trouxe Mel e mais de 20 pares de sapatos, todos da pequena Mel. Sapatos novíssimos de variados tipos... eu nem acreditei naquele tanto de sapatinhos, um mais lindo do que o outro! Ela me perguntou se eu queria... lógico que eu queria, pra mim foi uma honra ser escolhida para ganhar os sapatos de Mel e como fiquei feliz com tamanho presente! Este dia foi uma tarde muito linda! Meus filhos interagiram com Mel e Mel, com eles. Simmm, eles interagiram e se comunicaram muito bem! Loa era uma bebê e não falava, Mel também não mas isso era apenas um detalhe entre eles. Nem preciso dizer que foi um encontro de muita emoção... deste dia ficou aquela energia eternizada, a lembrança, a saudade, a foto e, o principal, mais um ensinamento de Mel: o coração é a mais perfeita forma de comunicação.
Eu sabia que a passagem de Mel aqui seria breve e queria muito ter colecionado histórias diárias com ela mas sempre entendi que, na sua intensidade de ser ela precisava percorrer muitos ambientes, visitar muitas pessoas, ensinar muita gente! Então, eu não poderia ter todos os dias muito tempo dela porque seu tempo, como ela, era muito valioso. Por isto que sempre considerei meu dia de sorte quando a encontra. No dia da sua despedida foi novamente muito emocionante. Tudo relacionado a Mel sempre veio acompanhado de intensa emoção. No seu velório as pessoas não estavam ali pelo pai, pela mãe... não, todos estavam ali por Mel. Pela falta que ela já estaria fazendo em todos aqueles corações, inclusive no meu. A todo instante Mel ensinava algo a alguém e mesmo não estando mais ali ainda assim deixava missões, lições e conclusões. Jamais esquecerei uma frase da minha amiga Cilmara naquele dia. Abraçadas e chorosas ela me falou: “amiga, é muito fácil ser mãe como nós!” Realmente, a mais pura verdade!
Mel pra mim é inspiração absoluta. Ela é uma história sem fim e embora a jornada dela aqui tenha chegado ao fim sua luz é infinita, assim como meu amor por ela.

Um beijo cheio de saudade
Tia Alinne Grassi



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