Minha amada vó Dinalva

    Hoje dia 22 de março já não tem a mesma alegria de outrora. Um ano atrás estávamos comemorando os 90 anos da minha amada avó materna e na minha mente, comemoraríamos seus 100 anos, assim como fizemos com minha bisavó, mãe dela, vó Odália.

   Na festa de 90 anos, vó bebeu cerveja, vinho seco, tudo de “guti guti”, virando copo!! Eu ri muito. Dizia que vinho seco era ruim demais, eu me divertia com ela, eu falava que era chique, que o paladar mudava com o tempo, mas ela insistia que bom era o vinho Pérgola. Numa certa altura da festa, ela olhou pra mim e disse: “Tomara eu morrer logo, não aguento mais tirar foto.” Aí falei com ela e disse que não precisava morrer para parar de tirar fotos, bastava dizer que estava cansada e não ia mais posar para foto nenhuma com ninguém. Mas ela era tão boazinha, tirou foto até cansar, mas também se divertiu muito.

   No dia 16 de julho de 2018 acordei no meio da madrugada com a triste notícia de sua partida, foi como levar uma facada no coração, fiquei sem acreditar, pois tinha almoçado na casa dela, assistimos a final da copa do mundo juntas, gravei até um vídeo de 15 segundos ela dizendo que Cadu era minha cara e que Mel tinha meu jeitinho. Todo domingo eu ia para a casa dela, ela me amava e amava Mel também. Muitas são as fotos dela carregando Mel no colo, ela achava Mel linda demais, babava pelo cabelo liso e lindo de Melzinha, ficava arrasada quando Mel estava internada. Ela sempre foi muito sensível.  
   Lembro do dia que fiz minha cirurgia cardíaca em 26 de maio de 2000, quando eu estava indo para o centro cirúrgico ela ligou, para desejar boa sorte e começou a chorar. Falei para ela não chorar, pois a cirurgia seria um sucesso e rapidinho estaria com ela. Todo dia da avó eu ligava, ela já sabia, esperava minha ligação! Vó tinha uma memória fantástica, aos 89 anos conjugava todos os verbos em todos os tempos verbais com Cadu, ele ficava admirado. Fiz vídeos desses momentos também. Todo domingo eu tirava foto quando estávamos na casa dela. Comprava geladinho, que ela gostava, fazia o furinho no saquinho porque ela não tinha mais todos os dentes, quase não tinha nenhum na verdade! Vó era muito figura!!

  Meu esposo era o endocrinologista dela, pois ela tinha diabetes. Quando tinha aniversários em minha casa, ela atacava os docinhos. Certa vez, Cristiano pegou ela no flagra e reclamou com ela, falou que não podia comer tanto doce. Ela respondeu de forma cômica, com palavrão, disse: “Tomá no c...” kkkkkkkk Rimos muito, aí ele respondeu: “Onde já se viu mandar o seu médico tomar no c...?” Aí ela riu e disse: “Eu vou morrer de qualquer jeito, então deixa eu comer o que tiver vontade”. Sábias palavras minha vozinha, comeu tudo que quis, não guardou mágoa de ninguém, foi feliz e muito bem quista por todos.
  Você enterrou dois filhos,o marido, todos os irmãos, mas sempre estava serena, ria e contava “causos”, os melhores por sinal. Sentimos tanto sua falta vó, um vazio tão grande você deixou. E para nossa dor continuar no dia 16, no dia que fez 7 meses de sua morte, 16 de fevereiro, você levou Melzinha para brilhar no céu com você,  nos deixando mais uma vez chorando e sofrendo, enquanto vocês no céu sorriem, brincam, passeiam em jardins floridos, contam histórias, se divertem, oram por nós aqui na Terra que não temos noção real do quão felizes e livres vocês estão.

   Sei que meu coração está com seu maior pedaço no céu, pois Deus primeiro levou meu pai, que foi meu grande amor e maior ídolo, depois levou você minha vozinha querida e por fim levou minha filha, minha princesa, luz da minha vida, meu maior presente. Uma sucessão de perdas, perdas duras, tristes, pesadas para mim, como filha, neta e mãe.

   Eu fui tão feliz a vida inteira, fui tão abençoada, nasci numa família festeira, alegre, de gente que fala alto, que gosta de música e de dançar, que sorri com os olhos... eu tive tudo, eu fui muito feliz até aqui. Por isso mesmo que não cobro nada a Deus, pois ELE já me deu demais.

  Que possamos ser felizes hoje, que vivamos intensamente nossos dias, que valorizemos as bênçãos a nós concedidas, que amemos e sejamos gratos, pois gratidão é essencial e indispensável, sua falta é imperdoável.

  Te amo vó Dinalva, obrigada por ter sido uma avó tão “porreta” e divertida! Fica bem aí no céu, estamos nos esforçando muito para ficarmos bem aqui embaixo.

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