1 ano depois ...

1 ano depois... o que mudou?

Mudou muita coisa nos últimos 365 dias de minha vida. Primeiro perdi uma filha amada e tive que aprender a viver sem ela, com um buraco no peito, lágrimas de saudade e fortalecimento na fé. Precisei aprender como se vive com um vazio tão grande no coração, com uma dor profunda que por vezes foi dor física, doía até para respirar. Teve um dia que Cristiano me examinou com medo de eu estar enfartando, era muita dor no peito, estávamos em Miguel Calmon na ocasião citada. Outro dia estava com minha amiga Toinha na porta da escola de Cadu e senti a dor mais uma vez, ela queria me levar pra clínica, mas falei que passava depois de alguns minutos... tudo passa não é mesmo? Me apego a isso para viver... 

Aprendi a sorrir e ser feliz novamente, aprendi de fato a conviver com a dor. Creio que me tornei mais forte, mas também mais fria, porque a dor do outro não dói mais emmim como doía antigamente, penso que se eu suporto uma dor tão intensa, todos são capazes de suportar suas dores. Cada dor é única, cada uma é de um jeito, a minha é gigante, mas só é gigante para mim, assim como sua dor, seu problema, só é gigante pra você.

Sempre tive uma comunhão muito forte com Deus, por muitas vezes orei chorando e ELE me deu respostas, foi generoso comigo, deu motivos para sorrir e seguir em frente, fortaleceu quando eu estava desmoronando.

Primeiro surgiu meu Blog, que foi minha terapia bem sucedida. As que tentei fazer com psicólogos não deram muito certo, eu só chorava. Com o Blog eu relembrei cada momento vivido, pude chorar minha dor e receber consolo nas mensagens de amigos por vezes distantes.

Segundo, Deus mandou Lara, minha sobrinha linda de olhos azuis, que irradia o ambiente, torna tudo mais claro, mais alegre, mais feliz. Cuidar dela e fazer companhia a minha irmã no pós-parto foi maravilhoso, me fez muito bem. Amo Larinha como se fosse minha também, ela sabe que a titia sempre estará à disposição dela.

Depois Deus me mandou Felipe, antes do natal, por que sabia que seria difícil pra mim. O meu Natal foi triste, foi sem graça, mas poderia ter sido pior se não tivéssemos Felipe. Ele trouxe vida e alegria para nosso lar, encheu nossa vida de cor, de sorrisos, de esperança. Foi realmente um nascimento que significou renascimento. Estamos tendo a oportunidade de refazer nossas vidas, de sermos felizes mais uma vez. 

A saudade sempre vai existir, o vazio no peito por vezes vai aparecer, mas o tempo se encarrega de amenizar o sofrimento. Eu tenho o consolo da mente tranqüila, de ter feito absolutamente tudo que estava ao meu alcance enquanto mãe. Tenho orgulho da filha guerreira que tive, que enfrentava cirurgias, intubações, internamentos, pneumonias, transfusões, tudo tudo tudo com um sorriso no rosto. Nós fomos felizes, muito felizes. As noites na UTI eram divertidas, eu sempre fazia amizade com a equipe médica. Nossas noites eram comendo chocolate, conversando, contando histórias, rindo, nos divertindo. Outras vezes eu ficava lendo meus muitos livros espíritas, fortalecendo minha fé a aumentando meu aprendizado, buscando explicações lógicas para os fatos da vida terrena.Sempre gostei mais do hospital à noite, porque era vazio, silencioso, transmitia paz.

Fomos muito amadas e cuidadas nas UTIs que estivemos. Criamos laços verdadeiros de amizade e de “querer bem”. 

Esses laços e esse amor que transbordava não eram apenas nas UTIs que estivemos, mas na vida que vivemos juntas, com os profissionais que cuidavam de Mel, com os amigos que conquistamos, com minha turma do BahiaDown que nunca nos desamparou, que esteve todo o tempo junto de nós, rezando, fazendo companhia, rindo, trazendo comida, indo ao centro espírita, passeando... vivendo ... Foi uma vida intensa, que não cabe remorso, não cabe insatisfação, não cabe revolta. Foi uma vida plena, bem vivida, cheia de viagens e de descobertas, cheia de amor e alegria. Sim, Mel teve uma vida muito feliz, ela teve tudo que precisava nessa vida. 

Eu li essa semana que a “SAUDADE É O PREÇO QUE SE PAGA POR VIVER MOMENTOS INESQUECÍVEIS”. Então eu tenho muito o que pagar... tenho muitos momentos que me fazem  sentir saudade, que foram inesquecíveis, que mesmo que passem 50 anos estarão em minha mente.

Mas é isso... 1 ano depois...

• As lágrimas ainda existem

• Eu aprendi a conviver com a dor 

• Eu renasci quando Felipe nasceu

• Eu tenho muita saudade dentro de mim

• Não tenho remorso porque fiz tudo por minha filha, fui presente integralmente em sua vida.

• Os verdadeiros amigos surgem de onde você menos espera e na sua dor você sabe reconhecê-los

• Vivam o hoje porque o amanhã pode não chegar. Falem o que sentem, pois vocês podem não ter uma segunda chance.

Hoje não amanheci chorando como muitas vezes. Acho que chorei demais essa semana, envolvida com a reforma do túmulo dela, com a lápide que ficou pronta, com a proximidade desse dia... Foi uma semana bem difícil. Ontem mesmo eu não estava bem, chorando e amamentando Felipe, depois chegou Larinha cheia de sorrisos e jogando os bracinhos, como se falasse : “tô aqui titia, vem sorrir comigo”... Aí hoje foi Felipe que amanheceu mais uma vez sorrindo pra mim, me olhando sem parar, me falando que eu tenho mil motivos para sorrir e agradecer. 

Não sei como será em Miguel Calmon no cemitério, vou agora pela manhã pra lá. Vou enfeitar com lindas flores o túmulo da minha princesa. Minha amiga Fernanda de SP me avisou que o pior dia pra ela foi dia 5/12 quando fez 1ano sem Marina. Desde então venho me preparando pra esse dia. Eu e Fê somos muito amigas e nos ajudamos muito, convivemos meses lado a lado na UTI do INCOR e perdemos nossas filhas bem pertinho, somos parceiras nessa estrada. 

Que vocês tenham um domingo abençoado. O meu também será com fé em Deus.

Luz e Paz a todos!

Forte Abraço

Mirela Miranda Nobre

@mirelamaedetres