DOIS FILHOS – Um em casa e outro na UTI
Um dos momentos mais complicados para uma mãe é deixar um filho em casa e ficar no hospital cuidando do outro. É necessário, é essencial, mas é sofrido também. Quando esse cuidado do filho doente dura apenas horas ou poucos dias, menos mal. Quando a família reside na mesma cidade do hospital que está sendo utilizado, alivia o sofrimento. Mas quando estão, há quilômetros de distância essa realidade muda um pouco.
Mel internou mais de 45x durante a vida, em todas eu voltava para o hospital chorando. Não chorava por voltar ao hospital, eu confesso que gostava da UTI, do ambiente, das pessoas, era até divertido para mim. Eu chorava por Cadu. Por ter que deixá-lo ainda pequeno, muitas vezes carente de beijo, abraço e atenção. Quando Mel nasceu ele tinha apenas 4 aninhos, era uma criança, que foi forçada a amadurecer, que jamais abriu sua boquinha e pediu que eu ficasse com ele e deixasse a irmã com outra pessoa no hospital. Que mesmo sentindo saudade, sofrendo a ausência da mãe, agüentou firme e amou a irmã acima de tudo e de todos. Não foi uma, nem duas, foram mais de mil que ele repetiu: ”A pessoa que eu mais amo no mundo é Mel e depois mamãe”. Deus sabe o quanto eu ficava feliz com esse amor dele pela irmã.
Quando ele tinha 5 anos eu fiquei 5 meses na UTI com Mel em SP. Nesse período nos vimos no Natal e Revéillon, carnaval em fevereiro, aniversário dele em 5 de março que fiz uma surpresa, meu aniversário em abril e enterro do meu pai em abril também e outra vez que não me recordo, mas fui em Salvador no sábado e voltei no domingo, só para vê-los (ele e o pai saíram de Jacobina e foram me encontrar em Salvador).
Essa fase foi super complicada. A motorista do transporte me falava que quando deixava ele em casa, ele pedia abraço e para ela brincar com ele um pouco. Me cortava o coração ouvir esses relatos. As chamadas de vídeo ajudavam a encurtar distâncias, mas era diferente do contato físico. Cristiano sempre trabalhou muito. Meus sogros moravam em Itapetinga na época, minha mãe em Miguel Calmon. Meus irmãos com as vidas corridas, trabalhando muito. Muitas vezes Samarinha (dinda dele) conseguia uma brecha na agenda e supria essa falta, participava da festinha da escola no meu lugar, levava para a casa dela no fim de semana, mas mãe é mãe né? Ela fazia demais inclusive, sou muito grata por sempre ter estado presente.
Quando eu voltei desse longo internamento ele sinalizou que era ruim demais ficar longe de quem se ama por muito tempo. Perguntei de quem ele tinha ficado longe e ele falou: “De você”. Foi como uma flecha entrando em meu coração. Prometi que não ficaria mais tanto tempo assim sem ele. Chorei porque sou chorona mesmo, porque imaginei o sofrimento dele.
Hoje, sentindo a dor que sinto pela ausência de Mel, por tê-la longe de mim, sem nenhuma opção de matar a saudade, imagino o quanto meu filho sofreu sem mim, sem meus beijos, meus abraços, sem ter mãe para conduzir sua vida.
Ele veio se dar conta do motivo de eu chorar tanto já grande, ano passado, com 9 anos. E ficou feliz por saber que o choro era por ele e não por Mel. Ele me viu chorando numa das vezes e falou: “Você fica triste em voltar pro hospital né mãe? Fica preocupada com a menina Bu.” Falei que não era preocupação com Mel, pois Mel estaria comigo o tempo todo. Eu chorava por deixar ele, pois se pudesse levaria ele comigo. Ele ficou feliz e disse: “Você chora por mim?” Afirmei que sim. Eu achei que era tão óbvio o porquê do meu choro, que nunca tinha explicado a ele como era angustiante para mim partir com uma e deixar o outro em casa sem minha proteção (que é exagerada inclusive).
Graças a Deus que ficou claro para ele.
No internamento do ano passado que foram mais de 2 meses em Salvador, sempre falávamos por chamada de vídeo, as vezes eu deixava ele conversando com Mel, tocando flauta para ela e ia correndo ao banheiro, quando voltava as enfermeiras e técnicas falavam que tinham escutado a voz de Cadu, mas não tinham visto ele. Eu ria e avisava que ele estava no Facetime com Mel, fazendo companhia enquanto eu ia ao banheiro. Outras vezes ele ligava e ficávamos estudando para a prova, isso tudo na UTI. Graças a DEUS que no Hospital Aliança era permitido usar celular, me salvava essa liberdade. Pois na UTI do Incor e do Santa Izabel não era permitido. Todas as noites eu ligava para Cadu e rezávamos o Pai Nosso, Ave Maria, Santo Anjo do Senhor e fazíamos uma prece. Bendita tecnologia que sempre usei a meu favor.
Acho um absurdo proibir uso de celular na UTI, basta à pessoa ter consciência do uso, não gritar ao telefone, ter noção de prudência e fazer bom uso deste recurso.
Eu sempre usei muito o celular no hospital, intercalava com meus livros espíritas, tive a chance de ler mais de 40, que me doutrinou bastante. Posso afirmar que o espiritismo é consolador.
O motivo de eu contar tudo isso a vocês, não é drama e nem para ter pena de Cadu. É para mostrar que você pode fazer-se presente, mesmo estando ausente fisicamente. Que atualmente temos uma tecnologia a nosso favor, chamada de vídeo, whatsapp, áudios, vídeos, tanta coisa pode ser utilizada, mesmo nada sendo capaz de suprir um abraço apertado, um beijo amoroso, pode sim diminuir a saudade. Eu sempre fiscalizei as notas de Cadu na escola, estudei para provas, rezei, ouvi as novas melodias na flauta e no clarinete, vi novos movimentos de Karatê, ouvi histórias, atendi pedidos, me desdobrei para que ele se sentisse amado e importante, mesmo sem ter a mãe por perto naquele momento, procurando fazer o que faço diariamente, mesmo a quilômetros de distância. Cadu já me ligou chorando porque teve pesadelo, já ligou porque não conseguia dormir, liga por qualquer motivo, ele sabia que mesmo longe, a mãe estava à disposição dele tempo integral.
Cadu é admirável, maduro, amoroso, inteligentíssimo, uma mente brilhante com certeza. Não conheço nenhum menino da idade dele que seja como ele, com múltiplos talentos e tanta doçura ao mesmo tempo. Ele é meu parceirão, conto tudo a ele, meu cúmplice, meu amor.
Mel também amava e admirava Cadu, atendia aos pedidos dele, eu tenho prova! Certa vez, quando Mel tinha 3 anos, ainda morávamos no bairro da Inocop. Eu estava com Mel no colo e nós duas olhando Cadu conversar. Ele estava implorando que eu desse um carrinho da Hotweels que era carro e virava bola, custava uns R$ 16,00 eu acho, menos que R$ 20,00. Mas eu falava que não ia dar porque ele não tinha cuidado com as coisas dele. Ele argumentava e eu negava o pedido. Aí olha a sacada de Cadu, olhou para Mel e falou: “Bu, diz pra mamãe me dar o carrinho que vira bola, por favor”. Eu juro por Deus que não acreditei no que eu vi. Mel levantou a cabeça e olhou para trás para mim. Eu levei um susto. Ela olhou como se dissesse, dá o brinquedo que ele quer mamãe. Cadu fez festa e falou: “ Tá vendo mãe?Até a menina BU quer que você me dê o carrinho que vira bola”. Diante disso, tive que comprar o bendito carrinho, que nem existe mais, porque clarooooo que Cadu acabou com ele rapidamente.
Ela deu outras provas que entendia o que nós falávamos, nós que sempre a subestimamos, achávamos que ela não entendia o que acontecia ao redor e o que contávamos a ela.
Cadu tinha tudo para ser diferente, podia ter tido raiva da irmã, pois depois dela, ele precisou ficar só, sem a mãe. Mas tudo é criação (ao meu ver). Cadu foi criado cercado de amor. Por ele e pela irmã, viu exemplos do amor que eu dedicava ao meu pai doente, sempre ouviu histórias de família, gostava de ouvir a bisa (minha amada avó Dinalva) conjugar verbos aos 90 anos, aos domingos tem o hábito de ir à casa da avó lá em Miguel Calmon, jamais me viu gritar ou desrespeitar os mais velhos, aprendeu desde cedo à importância de Deus, da fé e da oração. Aprendeu a amar Mel da mesma forma que eu e Cristiano a amávamos, brigava conosco que o amor dele era maior que o nosso por ela. Tudo isso me alegrava e muito.
Agora ele mudou o discurso, o primeiro amor dele é Felipe que está na barriga, o segundo é Mel, o terceiro é mamãe. Beija a barriga o dia todooo, alisa, não sai de perto, faz questão de todos percebam que eu estou grávida, pois beija a barriga e fala bem altoooo com Felipe, para chamar atenção mesmo, já até corrigi isso. Falei que não precisa falar gritando para chamar atenção de outras pessoas. Mas não posso garantir que serei obedecida, afinal ele está realizando o grande sonho da vida dele que era ter um irmão homem.
Fica a dica para mães que tem filhos em casa e outro em longo período de internamento, sejam presentes mesmo estando ausentes. Eu sei como você se sente, sei da saudade em seu coração, mas sei também sua consciência está em paz, pois você está sendo a melhor mãe do mundo, não está de cara fechada, não trata mal as pessoas, está sendo gentil e paciente, não murmura, não lamenta, está com o coração leve e em paz. Se por acaso você não se sente assim, reveja seus conceitos, pois nossos filhos são nosso reflexo. E a equipe do hospital percebe tudo isso que citei acima!
Para quem tem filhos com limitações de saúde, como eu tive, informo que ter irmãos é a melhor coisa do mundo. Não poupe seu filho de ter um amor de irmão, de ter um parceiro para a vida. Cadu e Mel sempre foram super grudados, era lindo vê-los juntos.
Forte abraço!
#maemenino#maedeanjonoceu
#maedebebenabarriga
#maedetres
#maequeamasermae
Oi Mirela, tivemos poucos contatos, saiba que te admiro muito,tua força, tua fé, teu carinho por todos. Você é inteligente, amável, sincera e querida, Deus fez você passar por tudo isto pra te mostrar a grandeza dele, sempre confie pois ele jamais te desamparara, desejo que seja feliz , que Felipe venha com saúde e traga mais alegrias para você, Cadu e Cristiano. Sempre me emociono lendo seus relatos. Vitoriosa, romântica e apaixonada , exemplo de mulher.
ResponderExcluirObrigada minha prima. beijos pra vc
ExcluirVocê é uma mãe sensacional!
ResponderExcluirDeus te proteja dando muita força e saude para curtir seus filhos.
Amém amém amém beijos
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