Dia das mães



                                                  DIA DAS MÃES

“DEVEMOS ACEITAR O QUE NÃO PODEMOS MUDAR”.

Não sei como definir Mãe, sei que existem muitos tipos, eu mesma tive a oportunidade de conhecer inúmeras ao longo dos meus 39 anos. Muitas vezes fazemos coisas inimagináveis, coisas que só uma mãe seria capaz de fazer.  Eu admiro muitas mulheres mães, que assim como eu, fazem a diferença na vida de seus filhos, que são parceiras á todo momento.

Uma das situações mais engraçadas que passei com Mel, foi no aeroporto de Salvador. Eu sempre viajei sozinha com ela, desde que ela era bebê. Viajava sempre com uma mochila bem pesada nas costas, com roupas, fraldas, mamadeiras, lata de leite, água mineral, classificador médico,  tupperware com seringas e sondas, etc... vivia com uns 10kg nas costas no mínimo e mais a minha bolsa lotada de coisas, mais o peso de Mel, que estava gordinha graças a Deus.  Pois bem, estou eu, saindo do avião em direção a retirada de bagagens, com Mel no colo, segurando com as duas mãos, óbvio, a mochila de 10kg nas costas, minha bolsa e um paninho de boca na mão porque Mel precisava muitas vezes. Eis que no meio daquele corredor gigante, eu estava passando sozinha, pois era a última a descer do avião sempre. Nessa época não existia cadeira de rodas ainda. Quase perto da escada rolante, o paninho de boca de Mel caiu. Eu com as mãos segurando ela, a mochila pesadíssima nas costas... olhei para todos os lados e ninguém para pegar o bendito paninho. Não teria condições de me abaixar, senão cairia e não conseguiria levantar.  Então, olhei para meu pé, que só viajo de sapatilha. Tirei a sapatilha, com o pé peguei o paninho e trouxe até a mão, calcei minha sapatilha e segui meu caminho. Quando o segurança me viu naquele estado, cheia de peso para retirar a bagagem, perguntou se eu queria ajuda. Claro que quis, eu estava quase desmaiando de tanto peso. Depois eu pensei: só uma mãe faz isso. Um pai jamais faria, mesmo porque dificilmente ele viajaria sozinho com um filho especial que exige tanto à todo momento. Mais uma vez pensei: Mãe é outro nível! Mãe é mesmo “phooodaaaa”.

Eu sei que nem toda mulher tem aptidão para a maternidade, não julgo, ninguém é igual a ninguém, mas admiro as que são mãezonas, leoas, que enfrentam o mundo pelos filhos, que estão ao seu lado em todas as situações, que perdem noite cuidando deles numa febre e no outro dia não passam na cara do mundo que ficaram acordadas, que conseguem  mantém o bom humor! Ser mãe é um privilégio, é uma escola que ensina como amar incondicionalmente. Eu realmente acredito que ninguém ame como uma mãe.

Essa última semana minhas irmãs fizeram ensaio fotográfico, nós temos esse hábito aqui em Jacobina de fazer ensaios em datas comemorativas, no estúdio de Dellane Lima, uma excelente fotógrafa, super sensível.  Ela mandou recado para eu ir, mas eu estava triste, falei que ia chorar, pois o estúdio dela me remetia a muitas lembranças e sem Mel não fazia muito sentido. Eu me senti menos mãe. Não me perguntem por que esse sentimento surgiu, mas surgiu muito forte em mim. Eu era menos mãe porque eu tenho menos um filho. Ela surgiu com a idéia de colocar Mel nas fotos em espírito, sombreada. Amei a idéia, mas fiquei com medo de chorar no estúdio. Perguntei a Cadu se ele queria fazer ensaio de dia das Mães, pois ele já está grandinho com 10 anos. Se ele quisesse, eu iria, senão, não teria foto nenhuma. Mas para minha surpresa ele quis, amou a idéia do ensaio e de colocar Mel em “espírito”.

Na quinta-feira após o inglês nós fomos. Coloquei quilos de maquiagem para esconder minhas noites mal dormidas e minhas lágrimas. Quando chegamos Dell perguntou: Porquê de preto?? Respondi que ultimamente minha vida anda sem cor, preto me representa fielmente.

Começamos o ensaio... Eu juro que me controlei ao máximo para não chorar, mas infelizmente a dor da saudade ainda é mais forte que eu, me esforço, tento engolir o choro, mas as lágrimas insistem em escorrer, como se essa dor profunda tivesse que sair de mim de alguma forma... vejo por esse ângulo. Chorei, me acalmei, coloquei mais pó no rosto e segui para finalizar as fotos.

Quando recebi a montagem, chorei muito mais, da mesma forma que choro agora, é a comprovação que minha filha virou estrela no céu, que eu sou sim mãe pela metade, que eu sou mãe de anjo, que não sou mais aquela mulher mãe alegre, forte, destemida, motorista de “fuga”, valente, corajosa, cheia de energia e com o sorrisão largo no rosto. Não sou mais sabe por quê? Porque não preciso ser mais isso tudo. Eu fui para Mel o que ela precisava, eu fui guiada por Deus o tempo todo para desempenhar meu papel com maestria e me sinto orgulhosa de ter conseguido, orgulhosa de sido feliz todos esses anos ao lado dela e ter passado isso a todos que tiveram a chance de cruzar nosso caminho.

Não foi fácil deixar Cadu pequeno todos esses anos e “morar” numa UTI. Lembro que de dezembro de 2014 até maio de 2015 vivi com Mel na UTI do INCOR em São Paulo. Quando eu voltei, após 5 meses numa UTI, estava na casa de mainha, lá em Miguel Calmon, num sábado à noite, sentada na cozinha com Mel no colo e Cadu se aproximou. Ficamos os três e ele disse: “Você sabia que é muito ruim ficar muito tempo longe de alguém que você ama?”. Eu olhei para meu filho, com apenas 6 anos recém-completados, gelei e fingi demência. Respondi meio que desentendida: “É? E tu já ficou muito tempo longe de alguém que tu ama?” Ele olhou fixamente para mim e respondeu: “Já. De você. E foi muito mais que um mês.”  Meu coração rasgou naquele momento, lágrimas escorreram sem que eu conseguisse controlar, só respondi: “Foram 5 meses meu amor, mas agora já estou aqui, acabou essa fase”. Nunca mais esqueci essa cena, me marcou muito. Nessa fase, quando internei Mel por mais tempo, ele tinha 5 aninhos. A moça do transporte me contou que quando deixava Cadu em casa, ele pedia abraço e a chamava pra brincar com ele um pouquinho. Eu morria por dentro quando ouvia isso, mas naquele momento, Mel precisava mais de mim, os dois eram pequenos, mas ela era bebê.

O tempo passou, os internamentos passaram dos 40, até perdi a conta. Todas as vezes que eu voltava com Mel pra UTI, saía de casa chorando. Uma vez Cadu falou: Você não gosta do hospital né mãe? Sempre sai de casa chorando. É preocupação com a menina Boo? Eu olhei nos olhos dele e falei: Claro que não meu filho. Eu choro porque eu deixo você. Mel estará comigo o tempo todo, estarei cuidando dela. Minhas lágrimas são por deixar você sem mãe, sem meu amor, sem meu cuidado, por isso que eu choro todas às vezes. Ele sorriu, muito feliz falou: “Então você chora por mim?”. Não entendi aquela felicidade toda na época, mas falei que sim, que era por ele. Nunca mais ele questionou minhas lágrimas ao sair com Mel pra UTI.

Cadu é muito especial, foi criado com muito amor e sendo ensinado a ser um homem, a amar sua irmã, protegê-la de todo o mal. Certa vez, na catequese, um menino viu Mel chegando na cadeirinha de rodas dela para buscá-lo. O menino olhou e falou: “Que menininha da cara esquisita, ainda anda de carrocinha”. Cadu enlouqueceu. Foi encima do menino e disse: “esquisita não, minha irmã é linda e tem síndrome de Down. E tem mais, isso não é carrocinha, isto é uma cadeira de locomoção”. Depois virou pra mim e disse: “Esse menino não é digno de ser meu amigo mãe”.  Eu fiquei muito orgulhosa do meu filho, tenho plena convicção que Cadu será um homem admirável, excelente pai, ótimo profissional, mega carinhoso e desprovido de qualquer preconceito. Sou fã dele, ele é tão especial quanto Mel.

Ele sempre me surpreende. Numa das vezes que Mel estava muito grave na UTI, eu conversando com ele numa boa, aí ele disse: “Mãe, quando Mel morrer, eu vou chorar tanto.” Ele tinha 5 anos, eu já comecei a chorar e disse: Eu também. Aí ele olhou pra mim, muito assustado, e disse: “Mas mãe, quando Mel morrer, você já vai ter morrido faz tempo. Esqueceu que os pais morrem primeiro que os filhos?”. Eu sorri e disse: Ohh Cadu, verdade! Tinha esquecido disso meu amor!Meu príncipe e suas “tiradas” que nos tiram a fala.

Se eu pudesse, não receberia nenhuma mensagem de Parabéns no dia das mães, porque nesse momento minha dor é tanta que não tem porque receber parabéns. Parabéns para uma mãe que perdeu uma filha? Aí você me responde: Mas você é mãe de Cadu. Não existe ex-mãe. Existem inclusive as mulheres que são mães sem nunca terem gerado um bebê, existem homens que são mães. Mas meu luto está nesse nível, de não me sentir mais mãe. De me sentir vazia e incompleta. Não é depressão, é só minha fase de aceitação. Por isso a frase lá do alto: “DEVEMOS ACEITAR O QUE NÃO PUDEMOS MUDAR”.

Eu aprendi com Mel o significado de resiliência, aceito tudo que DEUS mandou para mim, sei que SEUS planos são melhores e maiores que os meus. E acreditem, rezo todos os dias para ELE trazer minha felicidade de volta, para me permitir ser feliz mais uma vez. Não posso mudar essa situação, não posso trazer Mel de volta, então eu aceito a minha condição atual.

Você que é mãe, que nunca perdeu um filho, pode ler minhas palavras e pensar: Eu imagino o que você está passando. E eu te garanto que você não imagina. Só quem vive consegue dimensionar. Quando vi minhas amigas perderem seus filhos na UTI falava a mesma coisa, imagino sua dor. Hoje sei que não imaginava, era impossível eu saber o tamanho daquela dor.  É a mesma coisa que falamos para uma mulher antes de ser mãe quando recebemos nosso bebê no colo: Eu amo meu filho mais que tudo no mundo, amo incondicionalmente. Aí sua amiga que não é mãe fala: Eu imagino! Você também não imagina.  Só uma mãe sente esse amor puro e incondicional, que perde noites, que sofre para amamentar, que quando seu filho dorme sente saudade dele e quando ele sorri para você, você esquece todas as noites que você passou acordada, todas as refeições que você não fez ou comeu fria.

É realmente mágico ser mãe. Sem dúvida eu nasci para ser mãe. Amo engravidar, ficar com barrigão, amamentar, me sinto plena. Feliz de quem tem esse privilégio! Mas repito: você que não é mãe, por opção, por não ter vontade mesmo de ser mãe, tem todo o meu respeito. Estou expressando minha paixão pela maternidade. Estou com Cristiano desde meus 19 anos, se eu pudesse seria mãe aos 20.  Acho que a pessoa já nasce com essa vontade.

Não tenho muito o quê falar para vocês nesse dia das mães sem minha filha, apenas com Cadu ao meu lado. Tô me sentindo meio em dia de Finados. Triste e sem motivos para comemorar. Acredito que ano que vem estarei mais feliz, mais tranquila, com o tempo me ajudando a superar esse vazio, e essa dor, que ainda é latente. Como dizem por aí, o tempo é o melhor remédio. Mas estou feliz que ainda tenho mãe. Graças a Deus por isso.

Ano passado tínhamos vó Dinalva e Mel. Esse ano nenhuma das duas.

Ano passado estava na UTI com Mel entubada. Cadu foi para Salvador e ficou na UTI comigo o fim de semana todo. Ele tocou flauta para Mel, beijou a irmã, tiramos várias fotos os três. Não foi o Dia das Mães que sonhei, achei que tinha sido terrível ter minha filha entubada numa data tão sentimental. Mas vejo que é muito pior não tê-la, mesmo que entubada. Egoísmo meu? Talvez... Nunca quis ter minha filha de qualquer jeito, todos me conhecem sabem disso, mas queria muito tê-la ainda, poder pentear seus lindos cabelos, enfeitar com um belo laço, colocar óculos escuros para ficar bem estilosa e escolher os modelitos mais fashions que tivesse à mão. Sinto muita falta física dela, embora saiba que ela vive em mim.

Não digo que amo com toda força do meu coração, porque o coração pára, fica fraco, precisa de marca-passo. Eu amo com minha ALMA, pois essa é eterna e transcende. Atravessa gerações e mundos. Dessa forma que amo meus filhos.

Mães, parabéns pelo dia de vocês. Que DEUS as abençoe. Que vocês nunca tenham a infelicidade de enterrar um filho. Sejam intensas, façam tudo pelos filhos de vocês. Eduquem, dêem limites, beijem, abracem, sejam exemplo vivo a ser seguido. Mais uma vez reitero: Filho aprende com exemplo e não com o que você diz.

FELIZ DIA DAS MÃES

Mirela Nobre





Comentários

  1. Verdade Mi!
    Deus vai te dar força para superar essa dor,que não é ffácil.

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  2. Ter mãe e ser mãe, são emoções distintas que Deus nos deu a oportunidade de experimenta-las como forma de amadurecimento, aprendizagem moral, espiritual e sentimental. Hoje é o dia das mães e eu vim aqui para falar não das mães comuns, mas, das mães diferentes, mães especiais, mães guerreiras e também mães de braços vazios. "Estamos, então, diante do tão falado amor incondicional. Um amor que, acredito ser, uma amostra do amor de Deus." Mãe sente, mãe adivinha, mãe aprende sofrendo, mãe sofre aprendendo, mães que sorrir quando o coração chora, mães que lutam quando não a mais forças, mães que choram e sorriem ao mesmo tempo, mães que rezam pedindo um consolo a Deus. São mães que aprende muito mais do que ensinam, aprendem o que é o amor eterno. Colo de mãe, desconheço lugar melhor, porque ele nos abastece sem aprisionar. Mãe é aquela que te assegura do amor mais genuíno, mais desinteressado. Daquele amor que diz que “tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta”. A gente às vezes, passa a vida buscando ser amado, quando na verdade, já é. Só que ainda não se deu conta disso. Mãe volta quantas vezes for, repete até quando for necessário, doa sem cessar. Recebe os filhos em casa, se alegra em ter a bagunça dobrada de volta. Mãe é sagrada, coração de mãe é sagrado. E colo de mãe é um dos remédios mais poderosos, porque também é sagrado. Voz de mãe acalma, tem o poder de fazer carinho sem as mãos, de conter sem abraçar. É seguro saber que você pode ir, mas tem pra onde voltar. Que pode explorar o mundo, e que aquele colo estará ali, disponível para você. Mãe torce o voo e luta contra seu próprio coração ao encorajar o filho a ir, quando na verdade, ela queria que ele ficasse perto dela. Vê de longe e consegue proteger anos e anos mais tarde toda a sua vida. Ainda que saiba que seus projetos não necessariamente se cumprirão e que outros novos podem surgir pelo caminho, criado por nos, os filhos. Ser mãe é ser estabilidade e fortaleza, mesmo na incerteza, mesmo no sofrimento. Ser mãe é tudo isso e muito mais, mas acima de tudo é ter a capacidade de amar incondicionalmente os seus filhos! Você é uma mãe especial, foi escolhida por Deus para gerar um anjo que ele necessitava ao lado dele. Ser uma escolhida para agraciar o senhor com um anjo, mesmo que isso lhe custe uma dor sem fim! Você é mãe de um anjo, que te protege 24 horas por dia, que te ama de uma maneira mais que especial. Mãe não tem limites. Ser mãe não é apenas colocar o filho no mundo, ser mãe é ser presença constante, um sorriso que conforta na hora mais aflita, uma palavra que acalma e orienta. O seu coração é grande e generoso quanto a imensidão do universo e o seu colo?! Ah, sem duvidas, esse é a certeza de paz. Aproveite ao máximo cada segundo, pois cada momento e cada filho é único e foi exatamente assim que você fez. Sobretudo, você é uma pessoa agraciada, uma mãe maravilhosa, mulher de uma grandiosidade infinita de sentimentos, mulher forte, de uma fé inabalável. Mais do que ninguém, você merece ser homenageada, um grande exemplo de mãe, guerreira, amorosa, inteligente, forte, por sua dedicação e por seu amor, este que tudo sofre, tudo vence e tudo perdoa. Você não se curva diante das dificuldades, as vence. Seu amor me encanta, sua força me orgulha. Feliz dia das mães! ❤
    Um abraço bem apertado! ������

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    1. Que textãoooo mais lindo amiga!! Eu tenho a acessora mais TOP das GALÁXIAS :) Obrigada por tudo sempre! Você tem feito a diferença em minha vida! Beijão

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    2. Completamente emocionada... me senti tocada ao ler esse comentario a cima! Deus abençoe vcs. bjssss

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    3. Carol é minha assessora do blog, uma grande amiga, que mesmo há km de distância não me deixa sozinha nenhum momento.

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    4. Apesar dos km... Longe, mas perto do coração! Estou e estarei sempre aqui. Que sigamos juntas! ❤

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  3. Você é abençoada em dose dupla! Esse menino Cadu é um verdadeiro principe, muito inteligente. Me emocionei ao ler essa mensagem. Que Deus esteja sempre cntg, te amparando nesse momento tão dificil!

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